Foi observando a situação que muitas famílias passaram a enfrentar durante a pandemia do novo coronavírus que o boleiro Paulo Lima decidiu literalmente colocar a mão na massa: “Eu imaginei que se eu fosse um empregado e tivesse perdido o meu emprego ou tivesse tido uma redução salarial, só com os R$ 600,00 do auxílio emergencial eu não iria conseguir me manter e ter um pão na mesa todos os dias. Então eu pensei que não custava nada eu fazer o pão e vender para quem quer comprar e doar um para quem não pode pagar. Um pão faz toda a diferença no café da manhã, em um lanche da tarde”, afirmou Paulo.

Foi então que surgiu o projeto de pelo menos uma vez por semana produzir os pães e ajudar quem precisa. Como o forte de Paulo são os bolos e ele tem uma rotina bastante atarefada com as encomendas dos clientes não existe um dia certo para a fornada solidária sair: “Eu optei por comunicar as pessoas pela minha página do Facebook do dia em que consigo fazer. É por lá que coloco o endereço e deixo o recado para quem pode comprar e quem não pode”.

A iniciativa dele chamou a atenção de Ong’s que o procuraram para doar ingredientes mas ele não aceitou: “A partir do momento que eu aceito essa ajuda eu crio uma obrigatoriedade com o trabalho e eu não posso fazer isso. Como eu disse eu tenho compromissos a cumprir com a produção de bolos. Então neste intervalo, quando surge algumas horinhas, ao invés de descansar eu faço os pães”, relatou Paulo que é nordestino de sangue mas rio-clarense de coração.

Todo esse esforço já trouxe muitas histórias até a porta da casa de Paulo mas uma em específico o marcou muito: “Teve uma moça que veio até aqui, pegou o pão, disse muito obrigada e me explicou que não era apenas um pão. Que era tudo o que ela ia comer naquele dia. Aquela frase dela me deu a certeza de que eu estava fazendo a coisa certa. O que é tão pouco para uns às vezes é tudo para outros. E isso me emociona muito. Eu que já passei tantos altos e baixos nessa vida sei exatamente o que é estar no lugar dessa moça que veio em busca de um pão”, conta o boleiro com lágrimas.

Mas para quem pensa que tudo foi fácil ao longo desses meses em que Paulo tem desenvolvido o projeto se engana. Logo no início ele sofreu muitos ataques nas redes sociais de internautas que através de perfis verdadeiros os falsos o ameaçaram: “Teve gente que falou que eu estava querendo roubar clientela, aparecer politicamente, enfim. Não preciso passar por cima de ninguém e nem tenho vínculo com partido político ou intenção de me aventurar nessa área. A minha consciência e o meu coração são os que ditam as regras. Já enfrentei muitos preconceitos nesta vida por ser nordestino, negro, entre outras situações. Saí de todas mais fortalecido e disposto a sempre fazer o bem ao próximo”.

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