Vivian Guilherme

Entre os dias 7 e 17 de agosto, a Região de Campinas receberá o Viagem Literária, programa do Governo do Estado de São Paulo que proporciona o contato de escritores consagrados com cidadãos paulistas em municípios de todo o estado. Sete bibliotecas receberão os escritores Santana Filho, Ignácio de Loyola Brandão e Ferréz. Todos os encontros são gratuitos e não requer inscrição prévia.

O JC conversou com renomado escritor Ignácio de Loyola Brandão, que estará em Águas de Lindóia (14 de agosto), Leme (15 de agosto), Limeira (16 de agosto) e Monte Mor (17 de agosto). Agraciado pelo prêmio Jabuti em 2008 na categoria Livro do Ano de Ficção, com ‘O menino que vendia palavras’, o autor já contabiliza mais de 40 títulos publicados, entre contos, crônicas, viagens, infantis, uma peça teatral e romances, como os best-sellers ‘Zero’, ‘Não verás país nenhum’ e o ‘Anônimo célebre’. Atualmente escreve crônicas quinzenais para o jornal O Estado de S. Paulo e em 2016 conquistou o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras com o livro de crônicas ‘Se for para chorar, que seja de alegria’.

CONFIRA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA QUE O JORNALISTA ADRIEL ARVOLEA FEZ COM ESCRITOR:

 

JC: Sendo um escritor renomado o senhor está se dispondo a percorrer as cidades do interior, qual a importância dessas atividades?

Ignácio: Na realidade essas atividades eu comecei em 1975, há quase 42 anos, e foi numa época de ditadura ainda, não tinha esse costume ainda de se falar em escolas, mas depois de um grande debate no Teatro Casagrande no RJ sobre censura, na verdade o primeiro gesto contra censura, vários professores que estavam presentes naquele dia começaram a convidar. E naquele momento três escritores toparam todos os convites, o Antonio Torres, o João Antonio Ferreira Filho e eu. A gente começou a ir aos lugares para falar sobre literatura, mas no fundo falávamos muito mais sobre política, pois éramos jornalistas e tínhamos nas mãos todas as notícias censuradas, falávamos de literatura e muito mais de política e isso foi crescendo, depois de nós três vieram outros. Há um ponto em que hoje não há um escritor brasileiro que não saia para falar, são pouquíssimos os que não vão.

É uma maneira de formar leitores, o contato vivo e direto com o leitor. Quando o Governo de São Paulo criou a Viagem Literária, há dez anos, é um esquema bastante interessante porque você visita cinco cidades seguidas. É um programa que não foi desmobilizado, porque muitas festas literárias e eventos estão perdendo patrocínio, principalmente de Brasília, que não se interessa por cultura, as verbas caíram todas. A Viagem Literária é diferente porque 80 cidades recebem cinco escritores cada uma, ou seja, você tem 400 palestras durante esse período. É fantástico, porque o número de pessoas que você atinge é muito grande. Às vezes você a uma cidade com poucas pessoas e na próxima vez que você volta já tem o dobro ou triplo e na terceira um grande público. É uma forma e um momento no País atual, que sofre uma recessão cultural, é uma forma encantadora de se comunicar e chamar pessoas para literatura.

JC: Nesse contato com diferentes públicos por várias cidades, o senhor acaba absorvendo elementos que podem colaborar com novas produções?

Ignácio: Em 2014 eu fiz 56 cidades brasileiras, praticamente uma por semana, viajando de um lado e para o outro. Topei a Viagem Literária, porque acabei de escrever um romance, fazia 11 anos que não lançava. E aí em cada lugar que vou anoto tudo, anoto a forma de falar, a linguagem, a comida, a maneira de trabalhar com o livro, com o estudante, maneira que o professor cria para formar o leitor e em cada lugar um costume diferente. Quando volto, sempre escrevo uma crônica, pois sou cronista do Estado de SP, publico a cada 15 dias. Quando percebi que tinha estado no Macapá e Amapá era o último estado que tinha para cobrir o Brasil todo, pois já tinha ido a todos os estados, seja capital ou interior, juntei as crônicas principais e montei um livro. Nesse livro você vê uma viagem por dentro do Brasil. O livro se chama “O Mel de Ocara”, Ocara é uma cidadezinha de 20 mil habitantes, eles nunca tinham visto um escritor, foi comovente. O livro teve um grande resultado de leitura e de adoção por outros professores, pois dentro da história você tem um panorama do País. O que me comoveu em Ocara foram duas mulheres de 80 anos, analfabetas, que depois de me ouvirem não sabiam o que era literatura, fizeram muitas perguntas e, aos 80 anos ser tocado pela magia que é a literatura me deixou emocionado. Voltei a Ocara dois anos depois e procurei as mulheres e a professora que havia realizado o encontro me disse que as duas já sabiam ler. Fiz duas analfabetas aprenderem a ler!

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