O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Ainda temos tempo disponível para salvar o nosso planeta de uma destruição que vem se acelerando em um tempo recorde?
A resposta é sim, mas utilizando o gancho dos Jogos Olímpicos de Tóquio, eu diria que não estamos no início de uma maratona, mas em uma corrida de cem metros rasos, que está prestes a terminar.

Trata-se de sensacionalismo, de afirmação absurda e inconsequente? Não. Basta acompanhar os noticiários para verificar que a contagem regressiva para um desastre ambiental irreversível em praticamente todo o planeta já começou. E não foi agora.

Para detê-la, atrasá-la, é necessário que haja uma mobilização não só dos governos, mas de toda a sociedade. Sem discursos e promessas mirabolantes que nunca se concretizarão, mas com ações concretas e responsáveis.

A Bienal de Arquitetura de Veneza, que deveria ter ocorrido no ano passado, mas foi adiada para 2021 devido à pandemia, propõe essa questão que não pode ser ignorada: – “Como viveremos juntos?”. Essa pergunta envolve um compromisso moral de todos para tornar a vida nas cidades sustentável, com um planejamento urbano que permita a todos viver de forma digna.

Uma das obras mais impactantes desta Bienal é uma escultura com 3,6 metros de altura, impressa em 3D, feita de resíduos de plásticos recolhidos em oceanos de todas as partes do mundo. Quem a criou foi o arquiteto italiano Niccolo Casas. Parece um monstro que está presente no nosso mundo, que destrói o meio ambiente com uma voracidade espantosa.

O nome do arquiteto, Casas, é mais do que apropriado. Quantos milhões de habitantes do planeta vivem nas ruas, sem casa?
A arquitetura tem também essa função de colocar em questão aquilo que governantes em muitos países ignoram, que é a falta de moradia, de redes de água e esgoto. Milhões de moradores de inúmeros países fazem as suas necessidades a céu aberto. Não têm banheiro em casa. Em pleno século 21, tão tecnológico e, ao mesmo tempo, tão escatológico.

A Bienal, que irá até novembro, apresenta para outros arquitetos, urbanistas, ONGs e público em geral a monstruosidade que está presente não só na escultura, mas no mundo que tem uma desigualdade perversa. Uns poucos vivem em mansões, castelos, condomínios fechados. E a maioria vive mal, em casas precárias ou mesmo nas ruas, embaixo de viadutos e marquises.

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