A Unesp (Universidade Estadual Paulista) informou à reportagem do Jornal Cidade que tinha conhecimento das necessidades de intervenções no prédio central do Instituto de Biociências (IB) atingido pelo incêndio na quarta (31). Segundo comunicou, a direção da unidade universitária planejava uma ampla reforma estrutural na edificação, construída em 1977, e estava preparando o processo licitatório neste semestre. Durante ato realizado pelos alunos na tarde de ontem (1º), professores se manifestaram acerca das perdas. Segundo o Prof. Dr. José Paulo Leite Guadanucci, uma sala valiosa em itens científicos ficou completamente destruída, incluindo materiais da coleção do engenheiro Navarro de Andrade, que dá nome à Floresta Estadual em Rio Claro.

“Falo pelo acervo do laboratório didático de Zoologia, mas têm colegas que perderam até mais pesquisas com investimentos massivos, equipamentos caríssimos. Na Zoologia não perdemos equipamentos, mas o acervo da coleção. Perdemos o laminário, tanto de animais invertebrados e vertebrados. E também a famosa coleção de Nápoles [Itália], uma aquisição feita nos anos 1960 do Mar Mediterrâneo. Isso não se recupera mais. Tinham os vertebrados taxidermizados [empalhados], a coleção de crânios e esqueletos, conchas e moluscos, além de outros materiais. Única coisa que se salvou é a coleção de insetos, que estava no outro lado do prédio”, declarou.

A Profª Drª Maria Aparecida Marin Morales, do departamento de Biologia Geral e Aplicada, também esteve presente. “Nossas pesquisas são extremamente importantes, reconhecidas nacional e internacionalmente. Não temos mais nada. Nosso laboratório não pode acabar”, disse. Ao JC, declarou sobre riscos no prédio. “Existe há algum tempo comentário sobre sobrecarga [elétrica], o problema não é o IB, a gente depende de verba da Reitoria, mas nunca chegou de fato”, afirmou.

O Prof. Dr. Celio Fernando Baptista Haddad, do Departamento de Biodiversidade, declarou também à reportagem do Jornal Cidade que “o prédio foi intensamente usado nesse tempo todo desde a década de 70 até os dias presentes para aulas, atividades didáticas, administrativas e pelos departamentos de ensino e pesquisa. Ao longo desse tempo foram sendo feitas alterações na rede elétrica para atender instalação de equipamentos, foi sendo feito puxando fiação, fica visível um emaranhado de fios, obviamente uma situação inadequada. A gente tinha medo de um problema grave, como esse que acabou acontecendo. Esse problema era de conhecimento e nunca foi tomada providência efetiva, o que levou a essa tragédia, por sorte sem machucar ninguém. Perdi material que usava havia mais de 30 anos”, lamentou.

A Unesp, em nota, declarou ao JC que o processo licitatório que estava sendo preparado contemplaria a reforma no prédio central do IB de Rio Claro, com troca das redes elétrica e hidráulica, estava prevista para ocorrer em 2023 e era uma das principais metas da unidade universitária. “Além deste programa, a administração central da Unesp tem liberado, desde o final de 2021, recursos para investimentos pontuais. O Instituto de Biociências foi contemplado com um total de R$ 5,5 milhões em 2022 para infraestrutura”, informa. Questionada, a reitoria não deixou claro se esse valor já foi utilizado ou em que foi investido no IB.

“A Unesp está consternada com as perdas do instituto e se solidariza com todos os docentes, pesquisadores, estudantes e funcionários técnico-administrativos que tiveram seus trabalhos interrompidos por esta terrível ocorrência. A administração central se dedicará diuturnamente para que a rotina acadêmico-científica seja retomada o mais breve possı́vel”, finaliza. As aulas no IB de Rio Claro seguem restritas para que as estruturas do prédio atingido pelo fogo sejam avaliadas pela equipe de engenharia da Universidade. As atividades no Instituto de Biociências e Ciências Exatas (IGCE), outra unidade universitária do câmpus de Rio Claro, seguem normalmente.

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