A cidade de Rio Claro despediu-se de uma grande mulher no último dia 1º de julho. Inair Francisca da Rocha Marcelino faleceu aos 58 anos após complicações de um AVC que teria sofrido no início do mês passado.

Presidente da CooperViva, a Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Material Reaproveitável de Rio Claro, desde sua fundação, dona Inair é sinônimo de muita luta, mas também de muita conquista e valorização pessoal e profissional.

Nascida em Charqueada, cresceu na roça, onde trabalhou para ajudar a família e também foi onde conheceu seu falecido esposo Edison Marcelino, com quem teve seus três filhos e uma filha: Paulo, Anderson, Adriano e Camila.

Já casada, e saída da roça, dona Inair colhia minhocuçu e foi com esse dinheiro que conseguiu, ao lado de seu companheiro, construir seu lar. Mas a matéria-prima acabou e era preciso alimentar a família, então a ex-catadora resolveu recolher material reciclável.

“Dona Inair coletava o material do antigo lixão juntamente com outras famílias e em 97, após uma denúncia, essas pessoas são retiradas de lá e é onde tem o início da movimentação para anos depois surgir a CooperViva”, conta Valdemir Lima, um dos braços direitos da presidente na cooperativa.

Com muita luta e garra, dona Inair e outros catadores permaneceram até 2002 em diversos pontos da cidade, sobrevivendo do que recolhiam e, em novembro daquele ano, fundou-se a CooperViva, onde cerca de 40 famílias trabalham atualmente e se sustentam com o que recebem da recolha dos materiais.

“São cerca de quarenta famílias trabalhando diretamente com a cooperativa. O grande legado deixado por dona Inair foi a construção da cooperativa de modo geral, a construção do empoderamento dos catadores, que são seres humanos, que têm voz. Ela nos mostrou que é possível, uma mulher que não passou pelo banco escolar, mas tem todos os ensinamentos da vida, sempre uniu seus saberes aos dos demais e comigo, por exemplo, me ensinou o que o meio acadêmico não ensina, a vivência, o humano. A conheci em 2007 e desde então sempre vivíamos uma troca muito grande e positiva, sempre pensando no bem dos catadores, suas famílias e no meio ambiente”, conta Valdemir.

Para Val, o maior desafio agora é ressignificar a figura de dona Inair nas tantas catadoras da CooperViva. “Dona Inair estará para sempre viva dentro de nós e da cooperativa”, finaliza.

O sepultamento aconteceu no domingo, no Memorial Cidade Jardim.

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