Folhapress

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) teve deflação (queda) de 0,73% em agosto. É a menor taxa desde o começo da série histórica, iniciada em novembro de 1991, informou nesta quarta-feira (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A queda foi puxada pelo recuo nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, e da energia elétrica. Nos dois casos, houve impacto de cortes tributários aprovados às vésperas das eleições. Preços de alimentos e bebidas, por outro lado, continuaram em alta.

Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam um recuo mais intenso em agosto, de 0,82%. Em julho, o IPCA-15 havia registrado inflação (alta) de 0,13%.

Apesar da trégua, o índice ainda acumulou avanço de 9,60% em 12 meses. Nesse recorte, a alta era de 11,39% até o mês passado.

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também divulgado pelo IBGE. Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o dado de agosto ainda não está fechado. Será conhecido no dia 9 de setembro.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. O indicador prévio costuma ser calculado entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Neste caso, a coleta do IPCA-15 ocorreu de 14 de julho a 12 de agosto.

A carestia às vésperas das eleições pressiona o governo Jair Bolsonaro (PL), que teme os efeitos da perda do poder de compra dos brasileiros.

Para tentar reduzir os danos, o presidente aposta em um pacote de benefícios turbinados, incluindo o Auxílio Brasil, e no corte de tributos, que já alcançou parte dos preços.

Na reta final de junho, Bolsonaro sancionou projeto que definiu teto para cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, energia elétrica, transporte e telecomunicações. A medida resultou em baixa nos preços de produtos como a gasolina.

Combustíveis e luz recuam Conforme o IBGE, 6 dos 9 grupos pesquisados no IPCA-15 subiram em agosto. A deflação deste mês foi puxada pela queda no grupo de transportes (-5,24%). O segmento contribuiu com -1,15 ponto percentual para o resultado geral.

A variação de transportes teve impacto da queda dos combustíveis (-15,33%). A gasolina baixou 16,80%, com a maior contribuição individual para a deflação (-1,07 ponto percentual).

Também foram registradas quedas no etanol (-10,78%), no gás veicular (-5,40%) e no óleo diesel (-0,56%). A passagem aérea (-12,22%) foi outro subitem em baixa, após quatro meses consecutivos de alta.

Houve recuo ainda nos grupos habitação (-0,37%) e comunicação (-0,30%). A queda de habitação ficou associada à baixa da energia elétrica residencial (-3,29%).

O IBGE destacou que estados reduziram alíquotas de ICMS sobre as contas de luz. Além disso, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou revisões tarifárias extraordinárias de diferentes distribuidoras, o que também gerou alívio, segundo o instituto.

A comida, por outro lado, seguiu em alta em agosto. A maior elevação entre os grupos veio justamente de alimentação e bebidas: 1,12%. O avanço havia sido ainda mais intenso em julho (1,16%).

O grupo de alimentação e bebidas também registrou o principal impacto para cima no IPCA-15: 0,24 ponto percentual. O resultado foi influenciado pelo aumento nos preços do leite longa vida.

O produto disparou 14,21% em agosto. Foi o maior impacto individual positivo no índice do mês (0,14 ponto percentual).

Outros destaques vieram das frutas (2,99%), do queijo (4,18%) e do frango em pedaços (3,08%). A alimentação no domicílio subiu 1,24% em agosto. A alimentação fora do lar teve alta de 0,80%.

Inflação distante da meta No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 segue distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA. O centro da medida de referência é 3,50%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5%) ou para baixo (2%).

Com o corte tributário sobre os combustíveis, analistas do mercado financeiro passaram a reduzir as projeções para o IPCA em 2022. Mesmo assim, o país caminha para o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta de inflação.

A alta prevista pelo mercado para o IPCA é de 6,82% até dezembro, indicou a mediana do boletim Focus publicado na segunda-feira (22) pelo BC.

De acordo com analistas, a perda de receitas com tributos traz riscos para o quadro fiscal, com possíveis impactos negativos sobre a inflação mais à frente.

Para tentar conter a carestia, o BC vem subindo os juros. A taxa básica, a Selic, foi para 13,75% ao ano em agosto. A alta desafia a recuperação do consumo das famílias e encarece os investimentos produtivos das empresas.

Na terça-feira (23), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil terá dois ou três meses de queda de preços. Segundo ele, a inflação encerrará 2022 em torno de 6,5% ou um pouco abaixo.

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