Edneia Silva

A estiagem prolongada vem afetando a agricultura e mexendo com o mercado de trabalho na zona rural. O número de demissões de trabalhadores rurais tem aumentado e a perspectiva é de que 4.000 empregados nas plantações de cana-de-açúcar na macrorregião de Piracicaba (que engloba 35 municípios) sejam demitidos antes do fim da safra, devido à seca. Em Rio Claro, de janeiro a julho deste ano o sindicato homologou 350 rescisões.

A Afocapi (Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba) calcula que somente em Piracicaba existam 1.700 cortadores de cana, sendo que 900 fazem corte manual e 800 trabalham com corte mecanizado. A entidade afirma que a seca vai antecipar o fim da safra de novembro para meados de setembro ou outubro. Com isso, pelo menos 80% dos trabalhadores serão demitidos. O fato se deve à queda de 25% de produtividade nas lavouras e também ao alto custo de produção, que não é coberto pelo preço pago pelas usinas.

Levantamento feito pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) junto a 154 unidades produtoras de cana aponta que a produtividade de cana-de-açúcar deve cair 13% nesta safra em relação ao mesmo período de 2013.

A zona rural de Rio Claro também vem registrando um grande número de demissões. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Claro, Edi Ricardo Câmara, de janeiro a julho deste ano a entidade homologou 350 rescisões, fora aquelas que não são feitas pelo sindicato, que homologa apenas o fim dos contratos de trabalho com mais de um ano. Quem tem menos de um ano de registro não precisa fazer a rescisão no sindicato.

O presidente comenta que o aumento no número de demissões de trabalhadores rurais vem ocorrendo nos últimos dois anos. Um dos motivos é a mecanização do serviço. A colheita de cana-de-açúcar, por exemplo, é quase toda mecanizada, porque o Estado de São Paulo tem lei que prevê a eliminação gradual da colheita manual até 2017 para eliminação das queimadas da palha. Além disso, as queimadas estão proibidas no estado.

Câmara observa que não há como imputar todas as demissões à falta de chuva, mas a seca contribuiu para esse cenário. Segundo ele, o maior número de demissões vem ocorrendo nas plantações de laranja, que enfrentam sérios problemas com a doença greening, uma praga que tem assolado os pomares nos últimos anos.

A doença ataca as árvores, deixa as folhas amareladas e derruba as frutas, causando queda na produtividade. O greening não tem cura. Por isso, é preciso erradicar os pés e replantar o pomar. Câmara informa que muitos produtores têm cortado os pés de laranja e plantado cana no lugar porque é mais rápido e mais barato do que recuperar o pomar.

Rio Claro se destaca por sua diversidade agrícola por isso as dificuldades afetam vários setores. As plantações de cana são poucas e empregam apenas 40 cortadores. Segundo Câmara, Leme tem um número maior de cortadores porque se tornou um polo de trabalhadores provenientes das regiões Norte e Nordeste do país.

MECANIZAÇÃO

De acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), hoje 83% das plantações de cana são colhidas com máquinas, sem o uso do fogo. A cana colhida com queima caiu de 27,4%, na safra 2012/2013, para 16,3% na safra 2013/2014. São Paulo produz 371 milhões de toneladas de cana e responde por 51% da produção de etanol no país e 16% no mundo.

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