Folhapress

A Polícia Federal quer interrogar novamente Adélio Bispo de Oliveira na apuração que busca identificar eventuais mandantes ou financiadores do atentado contra Jair Bolsonaro (PL) em Juiz de Fora (MG), durante as eleições de 2018.

Antes de levar adiante a diligência, porém, o delegado Martín Bottaro Purper, encarregado atualmente do inquérito, pediu à Justiça Federal em Mato Grosso do Sul acesso ao laudo de avaliação do estado de saúde mental de Adélio, produzido recentemente por dois peritos.

O juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, da 5ª Vara Federal Criminal de Campo Grande, negou acesso no dia 4 de outubro, após ouvir o Ministério Público Federal.

O magistrado afirmou que “o documento está sob sigilo absoluto e não constitui diligência investigativa sobre fatos pretéritos, que justifiquem sua utilização na averiguação da participação e/ou financiamento por terceiros, no delito praticado pelo internado”.

Purper assumiu o inquérito no início deste ano. O delegado que estava com o caso antes dele concluiu por duas vezes que Adélio agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra Bolsonaro.

Recolhido em uma penitenciária federal na capital sul-mato-grossense, o responsável pela facada no hoje presidente da República foi submetido a uma nova avaliação psiquiátrica em julho. O exame subsidiará a definição, pela Justiça Federal, sobre eventual retorno de Adélio ao convívio social.

O pedido da PF para ter acesso à documentação foi apresentado nos autos da execução penal em 21 de setembro, duas semanas antes do primeiro turno das eleições. O delegado Purper quer saber detalhes das condições atuais de saúde de Adélio antes de efetivar um novo interrogatório.

Na decisão do início do mês, o juiz federal determinou ainda que a Polícia Federal fundamente, “concreta e especificamente, as razões do pedido de acesso ao laudo de avaliação do estado de saúde mental de Adélio”. Estabeleceu dez dias de prazo para essa providência.

Procurada pela Folha, a PF disse que não se manifesta sobre investigações em andamento.

Bolsonaro e aliados no governo pressionam a corporação a aderir à tese de que o atentado teria sido orquestrado. Questionam o trabalho realizado pelos investigadores, que não coletaram qualquer evidência de que Adélio tenha sido auxiliado por outras pessoas, obedecido a um mandante ou que sua ação tenha sido patrocinada.

Em junho de 2020, com base nas conclusões da segunda investigação da Polícia Federal sobre o episódio, o Ministério Público Federal em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento do inquérito policial que apurava o possível envolvimento de terceiros no crime.

No documento enviado à Justiça Federal, a Procuradoria afirmou ter concluído que Adélio concebeu, planejou e executou sozinho o crime, que ele já estava em Juiz de Fora quando o ato de campanha do então candidato ao Palácio do Planalto foi programado e que, portanto, o autor da facada não se deslocou até a cidade com o objetivo de cometer o crime.

Os representantes do MPF disseram ainda que Adélio não mantinha relações pessoais com nenhuma pessoa na cidade mineira, tampouco estabeleceu contatos que pudessem ter exercido influência sobre o atentado.

Frisaram ainda que ele não efetuou ou recebeu ligações telefônicas ou troca de mensagens por meio eletrônico com possível interessado no atentado ou pessoas relacionadas ao crime. Naquele mesmo mês, a Justiça Federal em Minas Gerais homologou o arquivamento.

Em novembro passado, porém, com base em um pedido de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) mandou reabrir o caso.

O tribunal autorizou que a PF vasculhe dados bancários e o conteúdo do celular apreendido em poder de Zanone Oliveira Júnior, advogado que atuou na defesa de Adélio.

A argumentação de aliados do presidente é que as informações podem revelar quem eventualmente custeou os honorários advocatícios, o que, para Bolsonaro, pode levar a polícia ao suposto mentor do crime.

No início do ano, a corporação escolheu Purper, delegado que tem no currículos investigações contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), para dar continuidade à apuração.

O trabalho havia sido iniciado por Rodrigo Morais Fernandes. Em dezembro passado, ele foi designado pela direção da polícia para missão de dois anos numa força-tarefa em Nova York, nos Estados Unidos. A atuação de Fernandes foi alvo de críticas de Bolsonaro e aliados.

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