Foto: Leila Fugii

Folhapress/ Carlos Kauffmann

Apresentador, músico e ator, Rolando Boldrin morreu na tarde desta quarta-feira (9), aos 86 anos, em São Paulo. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da TV Cultura, lar do “Sr. Brasil”, programa que ele apresentou por 17 anos.

Mais do que “um ator que canta, compõe e escreve”, como modestamente gostava de se definir, Boldrin foi um importante divulgador da música regional brasileira. É herdeiro em linha direta do trabalho pioneiro de Cornélio Pires (1884-1958), que Boldrin conheceu quando menino.

Neto de imigrantes do norte da Itália, Boldrin nasceu em 22 de outubro de 1936 na cidade de São Joaquim da Barra (SP), mas na infância mudou-se com a família para Guaíra, a poucos quilômetros dali. Com o irmão Leili (o Formiga), formou a dupla caipira infantil Boy & Formiga.

Após várias tentativas, a primeira aos 16 anos, transferiu-se para São Paulo e exerceu profissões diversas, como a de frentista e garçom, antes de ser aprovado em um teste na Rádio e TV Tupi para radioator e figurante, em 1958. Logo começou a fazer papéis maiores no canal, em programas como “Teatro de Novelas”, “TV de Comédia” e “Grande Teatro Tupi”.

Boldrin participou de gravações musicais com sua primeira mulher, a cantora e produtora Lurdinha Pereira, a partir de 1961. Compunha então mais sambas que outros ritmos, como “Onde Anda Iolanda”, que concorreu ao terceiro Festival Internacional da Canção (1968).

Em paralelo, a carreira como ator de telenovelas deslanchava. Atuou em 25 ao todo: na Tupi, em dois momentos (até 1966 e 1973-78), na Excelsior (1968), na Record (1969-72), no SBT (1977) e na Bandeirantes (1979-81). Canções de sua autoria integraram a trilha sonora de algumas produções, inclusive novelas da Globo (“Paraíso” e “Cabocla”).

A fase teatral de Rolando Boldrin passou pela experimentação dos grupos Arena e Oficina, em período de tensão política. Sua estreia foi em janeiro de 1966, na peça “Os Inimigos”, de Górki, com direção de José Celso Martinez Corrêa. Em 1968, atuou na “Feira Paulista de Opinião”, dirigido por Augusto Boal, sob ameaças do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).

O interesse na coleta de tradições regionais brasileiras se refletiu na produção de seus discos, que passaram a ter viés cada vez mais caipira, a partir de “O Cantadô” (1974). Gravou cerca de 250 músicas, entre composições próprias e de outros autores.

Em 1976, com “Palavrão”, surgiu o formato que veio consagrar Boldrin: a mistura de conversa mansa, música regional e poesia declamada em um show próprio, com Antonio Abujamra na direção e acompanhamento da Banda de Pau e Corda.

O roteiro foi seguido com sucesso na televisão cinco anos depois, na criação do programa “Som Brasil” (TV Globo), sob sua batuta até 1983. E funcionou nas versões similares que produziu em outras emissoras: “Empório Brasileiro” (Band, 1984), “Empório Brasil” (SBT, 1989), “Estação Brasil” (CNT, 1997) e “Sr. Brasil” (Cultura, desde 2005). Foram ocasiões em que Boldrin deu visibilidade a artistas brasileiros das mais variadas tendências musicais, unidos pelo elo comum da sonoridade acústica.

Não surpreende que Boldrin, um agente de difusão cultural, tenha se tornado também objeto de manifestação popular: sua vida virou tema do enredo da escola Pérola Negra no Carnaval paulistano de 2010. Foi mais um causo que ele pôde contar.

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