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Folhapress/ Samuel Fernandes

Uma pesquisa brasileira investigou se proteínas poderiam ser marcadores biológicos da depressão geriátrica, aquela que acomete idosos sem histórico prévio da doença. No fim, os cientistas observaram 75 substâncias que podem estar associadas com a condição.

“O objetivo da pesquisa era compreender melhor a biologia da doença, já que, com essas proteínas diferentes, conseguimos contar a história biológica da depressão”, afirma Daniel Martins-de-Souza, professor de bioquímica da Unicamp e um dos autores do estudo.

Publicada na revista Journal of Proteomics, a investigação contou com 50 idosos: 19 tinham depressão geriátrica e 31 compuseram o grupo controle.

A ideia de pesquisar essa complicação ocorreu durante o mestrado em genética e biologia molecular de Lícia Silva-Costa, primeira autora do artigo.

“Eu estava procurando um tema para o meu mestrado e esse me interessou bastante porque é uma época da vida em que as pessoas são mais vulneráveis”, conta Silva-Costa, que agora faz um doutorado de bioquímica na Unicamp.

Amostras de todos os 50 participantes do estudo foram colhidas para serem analisadas em laboratórios por meio de uma ferramenta chamada proteômica. Por meio dela, é possível mapear as proteínas presentes no sangue e apurar o respectivo volume delas nas amostras.

Então, os cientistas observaram que 96 proteínas estavam em uma quantidade maior nos pacientes com depressão em comparação àqueles sem a doença.

Com esse dado inicial, os autores utilizaram uma inteligência artificial para avaliar com maior precisão quais proteínas realmente indicavam uma associação entre a doença e as substâncias. “As 96 estavam alteradas, mas só as 75 geraram uma potencial identidade da depressão geriátrica”, explica Silva-Costa.

Uma das proteínas que chamou a atenção de Martins-de-Souza foi a CACNA1C. O professor de bioquímica afirma que ela cumpre um papel importante nos neurônios, as células comuns do cérebro humano. “Ela já foi previamente associada a distúrbios do neurodesenvolvimento, como os psiquiátricos.”

Durante a pesquisa, porém, a substância foi encontrada em maior quantidade no sangue dos pacientes, algo que não deveria acontecer. Segundo o pesquisador, essa descoberta pode ser uma evidência importante para indicar a associação entre substâncias como a CACNA1C, a maior quantidade delas no sangue e a depressão geriátrica.

“O fato de termos encontrado ela no sangue nos dá uma evidência bem importante porque essa proteína não deveria estar no sangue, principalmente por ela ter um papel neuronal”, completa.

Maiores riscos Outra descoberta do estudo foram seis proteínas específicas que apresentaram uma ligação com quadros mais críticos da depressão geriátrica. “Esse conjunto de seis proteínas aumenta à medida que se tem sintomas mais severos”, resume Martins-de-Souza.

Para o professor, a informação é útil, pois pode ser utilizada, no futuro, para evitar o desenvolvimento crítico da doença. “Essa pode ser uma assinatura molecular interessante em uma pessoa que esteja no início da doença para ir regulando e se tratando. Seria como um biomarcador para não deixar a doença piorar.”

Silva-Costa acrescenta que, de forma geral, as proteínas poderiam ser alvo para o tratamento da doença.
“Na hora que você reduz o nível de proteínas, pode reduzir os sintomas. Pode ser que não trate realmente a doença. Para isso, são necessárias mais investigações do que causa a depressão nessa faixa etária”, diz.

As proteínas como biomarcadores também podem ser úteis para diagnosticar a depressão tardia. Como a doença pode ocorrer por diversas causas, o diagnóstico exato é mais difícil. Por isso, a análise das proteínas como marcadores biológicos podem ser igualmente úteis.

No entanto, a pesquisa não conseguiu confirmar que essas proteínas estão associadas à depressão tardia. Na realidade, a intenção era levantar hipóteses que precisam ser melhor exploradas por outros estudos, com um grupo amostral maior.

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