Foto – Divulgação

Folhapress/ Mariana Moreira e Alessa Camarinha

Uma mulher que oferecia serviço de leitura de cartas convenceu Geneviève Rose Coll Boghici, 82, de que as obras de arte que pertenciam à família estavam amaldiçoadas e a convenceu a fazer pagamentos para um tratamento espiritual para supostos problemas de saúde da filha, Sabine Coll Boghici, segundo as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Sabine foi uma das quatro pessoas presas nesta quarta (10) sob suspeita de manter a mãe dela em cárcere privado e de participar de um esquema que desviou cerca de R$ 720 milhões da idosa em obras de arte, joias e pagamentos a um grupo de falsos videntes.

Geniviève foi vítima de roubo e levou um ano até denunciar a própria filha. Ela é viúva do colecionador e marchand Jean Boghici. Entre os quadros recuperados na operação desta quarta é “Sol poente” (1929), de Tarsila do Amaral.

Segundo o delegado, a quadrilha de falsos videntes agia há cerca de 20 anos com golpes financeiros.

Uma das mulheres presas, Rosa Stanesco Nicolau, teria um relacionamento com Sabine. A falsa cartomante era conhecida como Mãe Valéria de Oxóssi.

“Quando os quadros foram retirados da casa, a cartomante Rosa convenceu a idosa de que as obras estavam amaldiçoadas”, diz o delegado Gilberto Ribeiro, que foi procurado pela idosa no começo de 2021 para denunciar a situação de isolamento.

Após o início do tratamento da filha, a idosa foi isolada do convívio com outras pessoas, e os funcionários que trabalhavam para a família foram dispensados. A mulher desconfiou e deixou de fazer os pagamentos pelo tratamento da filha.

“A partir daí, ela sofreu uma série de ameaças para continuar fazendo pagamentos”, afirmou o delegado.

Segundo a investigação, as transferências eram feitas para a conta de um homem identificado como Gabriel, que seria filho de Rosa.

Segundo a polícia, Geniviève foi mantida em cárcere privado pela filha por cerca de um ano, até abril de 2021. No meio do ano passado, a idosa conseguiu sair do apartamento, foi até a casa de conhecidos e relatou a situação que estava vivendo.

“Os idosos têm uma condição de vida muito vulnerável. Quando eles têm valores altos em conta, se tornam um alvo da própria família, de pessoas que fazem parte do convívio familiar”, declarou Ribeiro.

Um homem e uma mulher suspeitos de participar do esquema estão foragidos.

A polícia diz que as obras serão restituídas à proprietária após uma análise em laboratório sobre o estado de conservação. De acordo com o delegado, haverá uma nova avaliação para aferir o valor dos quadros.

“A Tarsila e outros artistas são vendidos a dezenas de milhões de reais. Se nós fizermos uma merceologia das obras, podemos chegar a outro valor.”

De acordo com a polícia, cinco obras foram compradas por uma galeria em São Paulo. A polícia chegou a informar que duas telas tinham sido vendidas para o Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o fundador do museu, Eduardo Costantini, afirma no entanto que as aquisições foram feitas para sua coleção privada, e não para o acervo do museu.

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