ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ciência já sabe os benefícios do uso de máscaras para prevenir a infecção do coronavírus. Recentemente, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), dos EUA, emitiu uma nota técnica dizendo que pessoas completamente vacinadas não precisam mais usar máscaras, à exceção do transporte público, aviões e em hospitais.

Porém, nos EUA, 51,5% já receberam pelo menos uma dose das vacinas contra Covid e 42,3% estão totalmente imunizados (com as duas doses, no caso das vacinas que utilizam uma dose reforço, ou vacinado com a vacina da Janssen, de dose única).

Aposentar as máscaras, mesmo em indivíduos vacinados, ainda não é um consenso, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) se colocou contrária à medida. Isso porque as vacinas em uso em todo o mundo são diferentes e, embora todas tenham sido aprovadas e tenham suas eficácias comprovadas na proteção de casos de Covid graves e óbitos, nem todas protegem contra a infecção assintomática.

Mesmo as vacinas de eficácia mais alta não garantem imunidade total para infecções, embora não esteja totalmente claro o quanto uma pessoa vacinada que seja infectada possa transmitir o vírus. Por isso é importante manter o uso das máscaras. Além disso, diferentes máscaras oferecem diferentes níveis de proteção.

No Brasil estão sendo aplicadas vacinas de três diferentes fabricantes: a Coronavac, a Oxford/AstraZeneca e a Pfizer. Até a última quinta (10), 32,8% da população adulta no país recebeu pelo menos uma dose, enquanto pouco mais de 14% estão totalmente imunizados.

Dessas vacinas, a mais aplicada é a Coronavac, seguida da Oxford/AstraZeneca e a vacina da Pfizer/BioNTech, que só chegou ao país no final de abril.

Para o pesquisador e professor do Instituto de Medicina Social da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Guilherme Werneck, que trabalha semanalmente com uma nota técnica elaborada com outros pesquisadores sobre cobertura vacinal no país, existem três questões principais que envolvem as vacinas e uso de máscaras no momento: a cobertura vacinal, o tipo da vacina utilizada -uma vez que elas possuem dados de eficácia na vida real distintos- e a taxa de transmissão do coronavírus. Depende, ainda, da adesão ao uso de máscaras e do tipo de máscara utilizado.

“No Brasil, temos ainda uma quantidade muito pequena de vacinados com duas doses, vacinas com diferentes efetividades e administradas em intervalos de tempo distintos e uma alta transmissão a nível comunitário do vírus. Então é muito difícil estimar agora quando seria possível deixar de usar as máscaras”, diz.

Os três imunizantes apresentaram em estudos, feitos dentro e fora do país, alta efetividade para redução de casos graves, hospitalizações e óbitos.

Porém, apenas a Oxford/AstraZeneca e a Pfizer possuem dados sobre redução de infecção, isto é, contra a entrada do vírus no organismo. Segundo um estudo feito em Israel, a vacina da Pfizer reduz em cerca de 50% a infecção pelo coronavírus entre 13 e 24 dias após a primeira dose.

Com o esquema completo de duas doses, o imunizante se mostrou eficaz em reduzir em 86% os casos assintomáticos.
No caso da Oxford/AstraZeneca, resultados preliminares de um estudo feito no Reino Unido indicam uma redução de 70% dos casos assintomáticos após duas doses do imunizante.

Em abril, dois novos estudos de efetividade feitos na Inglaterra com Pfizer e Oxford/AstraZeneca apontaram para uma redução de 65% de todos os tipos de casos de Covid, 72% nos casos sintomáticos e 57% nas infecções pelo coronavírus. Foi avaliado o uso apenas da primeira dose em mais de 1,6 milhão de pessoas.

Apesar de já ter 60,23% de pessoas vacinadas com pelo menos uma dose, o Reino Unido vem enfrentando um aumento no número de casos nas últimas semanas, muito provavelmente em decorrência do aumento da circulação da variante gama (B.1.617.2, primeiro identificada na Índia).

A taxa desta sexta no Reino Unido, referente aos últimos sete dias, é de 61,8 casos a cada cem mil habitantes. Há 14 dias, essa taxa era de 32,3 casos por cem mil habitantes.

Para o Brasil, não há ainda dados de efetividade das vacinas Oxford/AstraZeneca e Pfizer. Um estudo em Botucatu (SP) deve avaliar a eficácia da vacina da AstraZeneca em reduzir casos na vida real.

Já para a Coronavac, estudo de efetividade da vacina conduzido na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, indicou uma redução nos novos casos sintomáticos e hospitalizações por Covid-19 quando 75% da população adulta foi vacinada com as duas doses -a redução de casos foi de 80% quando alcançada a marca de 95% de vacinados. Não há, no entanto, dados da Coronavac no país para redução de casos assintomáticos.

Todos esses dados indicam uma alta eficácia das vacinas em proteger contra novos casos de Covid e, em alguns casos, contra a infecção pelo coronavírus. Mas em todos os estudos, há uma janela, de entre 14% e 43%, de possibilidade de surgirem novos casos em pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina.

Para o médico, é preciso pensar na efetividade das três medidas como aditivas, uma sobrepondo-se à outra.
“Para poder fazer como os EUA teríamos que atingir uma cobertura vacina de pelo menos uma dose alta, por volta de 50%, com uma vacina com boa efetividade para impedir a infecção do vírus e taxa de transmissão local baixa. No Brasil, largamos atrás com a vacinação e estamos com uma taxa de transmissão alta, colocando mais pressão ainda nas vacinas”, diz Werneck.

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