Na foto, a atriz transexual Viviany Beleboni encenando a crucificação durante a Parada do Orgulho LGBT que aconteceu no dia 7 deste mês (Foto: Sergio Castro/Estadão)

Lourenço Favari

Na foto, a atriz transexual Viviany Beleboni encenando a crucificação durante a Parada do Orgulho LGBT que aconteceu no dia 7 deste mês (Foto: Sergio Castro/Estadão)
Na foto, a atriz transexual Viviany Beleboni encenando a crucificação durante a Parada do Orgulho LGBT que aconteceu no dia 7 deste mês (Foto: Sergio Castro/Estadão)

A representação de cristo crucificado, encenada durante a 19ª edição da Parada do Orgulho LGBT por uma transexual dividiu opiniões no país. Enquanto alguns entendem que o ato desrespeitou o símbolo religioso, outros defendem que por se tratar de um signo de sofrimento, a manifestação foi válida.

A atriz Viviany Beleboni, de 26 anos, foi responsável por realizar a performance. Em declarações à imprensa, ela contou que se prendeu à cruz para “representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado”. “Nunca tive a intenção de atacar a igreja. A ideia era, mesmo, protestar contra a homofobia”, garantiu.

PROTESTO SEM AGRESSÃO

Não foi como um protesto contra a homofobia que alguns religiosos interpretaram o ato. O pastor da igreja do Nazareno de Rio Claro, Luis Henrique Biazon, considera que a ação feriu frontalmente a crença da comunidade religiosa. “Existem muitas maneiras de protestar. Esta foi uma afronta, pois usaram um símbolo do cristianismo para tentar apresentar uma situação na qual eles são discriminados e ofendidos. Eles tem o direito de protestar, só não precisam agredir os outros para isso. É preciso ser educado, respeitar o direito dos outros, a fé dos outros”, esclarece.

Biazon acrescenta que o movimento perdeu o foco ao “debochar do símbolo religioso”. O pastor enfatiza ainda que não se trata de perseguição contra a comunidade LGBT. “Nós não perseguimos ninguém. Da mesma forma que eles tem o direito de se manifestar e protestar, nós temos o direito de não aceitar. Deus criou o homem e a mulher, fez um Adão e uma Eva”.

DOIS SEXOS

O pastor diz que se baseia nos ensinamentos bíblicos para defender a manutenção da família tradicional, formada por um homem e uma mulher. “Como igreja evangélica nós amamos a todos e queremos mostrar a eles o caminho da felicidade plena dentro da vontade de Deus, e entendemos que isso não é a vontade de Deus. Não existe terceiro gênero”, diz sobre a homossexualidade.

Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB) foram 326 mortes de homossexuais no país em 2014. Um assassinato a cada 27 horas. Aumento de 4,1 em relação ao ano anterior.

PROGRESSISTA

Do outro lado do pensamento está o padre da igreja católica Otto Dana, emérito da Paróquia Sant’Ana. “Achei espetacular a iniciativa dela ou dele, não sei como me referir. O ato quis representar, através da crucificação, a dor e sofrimento das minorias”, reflete.

Para o padre, a cruz é o símbolo universal da dor e da rejeição. “A própria escolha do símbolo expressa uma manifestação de fé da atriz. Para mim foi uma obra de arte muito bem trabalhada”, frisa.

Dana não acredita que a ação afrontou a fé, tampouco a moral cristã, mas abriu para uma discussão mais profunda acerca do tema. “Eu nem rechaçaria por ser no meio daquele ambiente, pois até reforçou o discurso”, diz ao reforçar que, se soubesse do contexto da ação, até o Papa Francisco apoiaria a performance.

PECADO

O católico criticou o posicionamento dos deputados da bancada evangélica no Congresso Nacional no dia 10 deste mês em resposta à performance. “Ridículo foi a manifestação dos deputados em desagravo pelo ‘pecado’ desta manifestação da crucificação. Os deputados é que pecaram”, analisa.

“Se a crucificação tivesse sido feita por uma religiosa, com certeza não provocaria escândalo”, comenta o padre ao lembrar que muitas vezes a bíblia é utilizada de forma equivocada, visto que muitas pessoas distorcem as interpretações do conteúdo.

MOVIMENTO LGBT

José Basílio Lemes Neto, um dos representantes da comunidade LGBT de Rio Claro acredita que poderia ser outro tipo de manifestação. “A Parada Gay perdeu um pouco o foco que tinha, da luta pelos direitos, virou mais uma festa. Eu acho que poderia ser outro tipo de manifestação. Sou contra a utilização de símbolos religiosos, pois impede o desenvolvimento do movimento”, declarou o representante que esteve durante treze anos consecutivos no evento paulistano. Importante destacar que há dois anos, Basílio deixou de participar da atividade em função do desvio de foco da atividade.

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