O empresário Floriano Bianchini Neto, o Ninho, de 60 anos, adquiriu o Chevrolet Ramona 1929 cor vinho metálico logo que voltou dos Estados Unidos, há 36 anos. Na época, ele foi para São Petersburgo, na Flórida, estudar línguas. 

 Era o início da realização de um sonho, que começou com o seu ‘pai’ americano, que o levava a shows de carros raros no exterior. A paixão foi instantânea. Em 1987, quando Ninho andava pelas ruas, encontrou em um posto de combustíveis esse ‘noventão’ para lá de imponente. Assim, a Ramona dos sonhos valeu 80 toneladas de calcário dolomítico. “Foi uma troca com um produto que minha família industrializava na época. Aí nós negociamos e eu consegui levar o veículo para casa”.

Quando chegou, a Ramoninha era branca, com pneus rebaixados e bem simples. Sem capota (conversível), já tinha a motorização de opala 6cc e câmbio na mão três marchas, quatro portas e bancos inteiriços quase como uma original. Mas Bianchini não estava contente com a estrutura e optou por fazer algumas mudanças.

Carro quase foi perdido na primeira tentativa de restauração

Ninho encontrou na Cidade Azul um funileiro para dar o start ao projeto. No entanto, tudo saiu errado e o carro ficou completamente desestruturado. 

“Por ignorância, esquecemos que ele tem todo o suporte estrutural em madeira. Ao usar o maçarico para soldagem, o material se rompeu e o deixou sem suporte estrutural. Ele abriu que nem uma couve-flor. Ficamos com um grande pepino nas mãos, quase insolúvel”, revela o empresário.

Ainda que o choro fosse inevitável, Bianchini não desistiu. Ao JC, ele relata que começou a procurar alguém no Brasil que pudesse realizar esse tipo de ‘rescaldo metálico’ e fazer o sonho virar realidade. Aliás, essa pesquisa foi muito complicada, afinal, na época, tudo era ‘boca a boca’. Não existia internet, o que facilita, hoje, a busca por serviços.

Foi em Campinas, interior de São Paulo, que chegou ao renomado Baratello – reparador de antigos. Então, explicou o ocorrido e, para seu espanto, Baratello pediu para levar o veículo no mesmo dia. 

“[Ele] me disse que meu carro iria ter que começar [a ser restaurado] de baixo, pelas longarinas do chassi, para cima. Se começasse ao contrário, como de comum, quando chegasse ao final não encaixaria nada. [Ele falou que] poderia fazer a recuperação, mas não saberia dar uma data para terminar e nem quanto iria custar”, diz ele.

Bianchini, então, resolveu fazer um contrato mensal, em dólares, e com uma cláusula muito desfavorável para o mecânico. Se durante a restauração, Ninho passasse por lá na hora do serviço e não visse ninguém trabalhando no carro, não pagaria o mês.

 A papelada foi assinada o mais rápido possível. Para o empresário, era quase impossível que, em todo o projeto, isso não acontecesse. Para seu espanto e surpresa, em todos os anos de serviço, nunca conseguiu pegar ninguém sem estar trabalhando na Ramona.

O resultado final, que demorou quase oito anos, foi um trabalho elaborado com maestria pelos antigos funcionários de Baratello: um projeto de reestruturação interna com madeiras originais e curvadas a mão, serviço quase impossível de se fazer hoje, por falta de mão de obra qualificada. 

Segundo Ninho, na carroceria foi feito um serviço de estanho e martelinho, para não usar massa plástica. Só esse trabalho durou quase um ano, mas o resultado tornou-se duradouro. Motorização, freio, amortecedores, câmbio e escapamentos: tudo refeito e novo. Na pintura foram dadas mais de 20 demãos de tinta e verniz prime e, finalmente, foi feita uma capota magnífica para o conjunto.

Para Bianchini, o resultado final foi realmente dos sonhos: Motor 6cc de opala, câmbio readaptado de 3 marchas, bancos feitos com material importado, freio hidrovácuo, rodas e pneus largos, tanque de gasolina em inox, escapamentos de competição e outros materiais de primeiríssima qualidade que só uma Ramona merece.

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