O Dia Mundial da Prematuridade foi celebrado no último dia 17. Com dedicação à consciência sobre o assunto, a campanha “Novembro Roxo” deste ano levanta o tema “Cuidados maternos e neonatais de qualidade em todos os lugares”. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 1 a cada 10 nascimentos acontece antes das 37 semanas de gestação, colocando o país entre os 10 com maior número de partos prematuros no mundo.
Em Rio Claro, a Santa Casa de Misericórdia realiza um trabalho excepcional nos mais de 20 anos de existência da UTI Neo Natal. Claudia Trivelatto Rossetti é neonatologista, está na Santa Casa desde 1999 e é responsável pelo departamento. Durante conversa com o Jornal Cidade, a médica falou sobre o que é a prematuridade, a importância do pré-natal e do trabalho realizado no hospital com os bebês que nascem antes das 37 semanas e suas famílias.
“Estou na Santa Casa desde 1999 e tenho a honra de coordenar o UTI Neo Natal há mais de 20 anos, toda a equipe realiza um trabalho com muita competência e dedicação”, fala a médica, que segue, explicando sobre o tema. “A prematuridade é o fato do bebê nascer antes do tempo, então todo bebê é considerado prematuro se nasce antes das 37 semanas de gestação. Uma gestação é considerada normal quando o bebê nasce entre 37 a 41 semanas e seis dias”, aponta.
Sobre os desafios enfrentados, a médica é bastante enfática, deixando claro que só quem vivencia de perto ou passa pelo fato, tem a dimensão da situação. “O desafio da prematuridade é um mundo a parte, uma luta muito importante que o bebe prematuro precisa vencer, assim como a família. São entraves a serem vencidos por parte da equipe médica, do tempo de internação, ou seja, realmente uma grande jornada”, aponta.
MOTIVOS
Dra. Claudia Rossetti aborda a quantidade de nascimentos prematuros no país e também os motivos que levam à prematuridade. “As causas da prematuridade vão desde a parte social. Infelizmente, o Brasil possui uma taxa imensa. Nascem 360 mil prematuros por ano, esses dados são da Fio Cruz, da Organização Mundial de Saúde. São mais ou menos mil prematuros que nascem por dia em nosso país, a cada 10 minutos, nascem seis bebês antes das 37 semanas e é um dado que reflete nossa preocupação, estudo e emprenho da área”, fala.
A médica explica ainda que as causas são diversas, desde baixas condições socioeconômicas, pré-natal inadequado, doenças maternas que necessitam de atenção, como por exemplo hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, alcoolismo, doenças infeccionas.
“A maioria das causas são espontâneas, o bebê nasce sem dar muito aviso e outras causas são marcadas, agendadas, o adiantamento pode ocorrer pela gestação oferecer riscos à mãe e também ao bebê. E quando acontece um parto prematuro, o bebê segue fluxogramas, esse bebe não pode ir com a mãe, independente do tipo de parto, vão para o berçário ou UTI Neo, para receber os cuidados adequados”, explica.
NOVEMBRO ROXO
A Dra. Claudia também destaca sobre a importância do Novembro Roxo e todas as campanhas desenvolvidas ao longo do mês. “Este mês serve para dar luz a um assunto que muitas pessoas não sabem. Muitas pessoas desconhecem essa jornada do prematuro e de suas famílias, pois o lógico, o mais natural é o nascimento no tempo certo, ir para casa no tempo certo e vida normal. Mas as pessoas não sabem a luta por parte desses guerreirinhos e suas famílias, então este mês serve exatamente para aprofundar o assunto: a importância de se fazer um bom pré-natal, prevenir algumas doenças, comportamento social, alimentar, consciência por parte do governo quanto a investimentos em UTIs Neo Natais e muito mais”, finaliza.
DUPLA DE GUERREIRAS
Pequenas guerreiras, são adjetivos que cabem muito bem às histórias de Lis Helena Alves Teixeira e Luisa Helena Alves Teixeira, que nasceram de 32 semanas e quatro dias, na Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro e no próximo dia 28, completam seis meses de muita, mas muita vida. A mamãe Andrielle Alves de Souza conta que as surpresas começaram com a descoberta da gravidez.
“Eu descobri com nove semanas, indo para o terceiro mês, acabei descobrindo em um exame de rotina que meu gastro havia solicitado. No dia do exame, o próprio médico responsável mostrou que era possível ouvir o coração, fiquei em choque, segurei a informação para mim e nem imaginava que seriam gêmeos”, conta.
A mãe comenta que comprou duas roupinhas para poder fazer uma surpresa para a família e contar, sem saber que eram gêmeos e foi só no segundo exame do pré-natal que a notícia veio. “O médico perguntou se eu já tinha filhos e disse que tinha uma ótima notícia. Ficamos em choque, eu e meu marido, Luis Gustavo Alves Teixeira. Na hora ficamos assustamos, mas a notícia da gravidez havia sido mais impactante, então percebemos que daríamos conta”, fala a mãe, que relatou ainda que teve uma gestação um pouco conturbada em relação ao estado de sua saúde mental .
NO MUNDO
E num domingo, com 32 semanas e quatro dias, Lis, uma das bebês, rompeu a bolsa. “Foi um susto, mas Deus estava me preparando do começo ao fim, fiquei calma, viemos para o hospital, durante o parto uma delas estava na posição e outra não, então acabou necessitando da cirurgia mesmo. Tive apoio de todos os profissionais da Santa Casa, do começo ao fim. E recebemos a informação de que precisariam ir para a UTI. Luisa saiu primeiro e Lis, que não estava na posição, acabou ficando um pouco fraquinha, sem respirar e naquele momento eu só pensava ‘meu Deus, minha filha’ e minha única reação foi fechar os olhos e fazer uma oração. Pensei, ‘Deus me deu duas crianças e sairei daqui com as duas’”, relata.
No total, as pequenas ficaram oito dias na UTI Neo Natal, depois mais uma semana no berçário e outra ainda no quarto. “Eles chamam de adaptação esta etapa do quarto, para que consigamos ficar com as bebês, nos entrosarmos e entendermos tudo o que era necessário. No total, foram de 25 a 26 dias no hospital, depois disso, fomos para casa completos e felizes”, finaliza a Andrielle.