Folhapress

A professora Cláudia Fernanda Tavares Hoeckler, 40, presa após confessar ter matado o marido e escondido o corpo por cinco dias num freezer de sua casa, disse que era ameaçada de morte pela vítima.

Ela prestou depoimento nesta terça-feira (21) em Lacerdópolis (SC), cidade a 400 quilômetros de Florianópolis, onde vivia com o marido, o motorista Valdemir Hoeckler, 52. A causa da morte ainda não foi confirmada.

A mulher confessou o crime, de acordo com a polícia catarinense, e disse que a motivação foram as constantes ameaças de morte e a violência física e psicológica que sofria do marido havia anos. Sua defesa afirmou que, “para preservar a vida, ela acabou matando”.

Ela está presa e deve responder pelo crime de homicídio. De acordo com o delegado Gilmar Bonamigo, da Delegacia de Capinzal, Cláudia teve uma medida protetiva contra o companheiro expedida em 2019, mas depois disso o casal decidiu se reconciliar. No depoimento, ela afirmou que as ameaças nunca pararam.

Marcas de agressão no corpo dela, durante a queixa de desaparecimento, levaram a polícia a suspeitar do caso e, durante buscas na residência, o corpo de Valdemir foi encontrado dentro do freezer.

O delegado conta que o crime ocorreu na segunda-feira (14) após uma discussão. O marido teria ameaçado Cláudia de morte após ela dizer que iria numa confraternização com colegas da escola.

Segundo o depoimento, cansada da violência, a professora decidiu dar a ele três comprimidos de um remédio para dormir, misturados aos medicamentos de uso contínuo do marido. Depois que ele dormiu, conta o delegado, ela amarrou suas mãos e pés e usou uma sacola plástica para asfixiá-lo.

“Porém, a perícia não conseguiu distinguir que a causa da morte foi asfixia. Ela pode ter colocado ele dormindo ainda vivo dentro do congelador”, diz Bonamigo.

Com a ajuda de uma cadeira, fala o policial, ela teria colocado o marido dentro do freezer e escondido em meio a comidas e bebidas, que foram servidas a vizinhos e bombeiros que ajudavam nas buscas pela pequena cidade catarinense de apenas 2.000 habitantes.

Bonamigo disse que foram cinco dias de buscas e cerca de 40 pessoas envolvidas. “E ela não se comoveu.”

De acordo com o delegado, pessoas próximas à vítima estranharam que o freezer, vazio na semana anterior, estivesse cheio e que Cláudia mantinha certa vigilância a ele, não demonstrando interesse na procura pelo marido.

A informação fez com que a polícia realizasse busca na residência, onde o corpo foi encontrado no sábado (20). Cláudia, porém, já tinha fugido e só se entregou na segunda-feira (21).

Bonamigo conta que ela alegou sofrer ameaças há 20 anos e que o marido ameaçava a própria filha do casal, de 22 anos. Com a pressão e a violência psicológica, a professora disse não acreditar mais no aparato estatal de proteção à mulher que pudesse livrá-la da morte.

“Se alguém tem que morrer que seja ele”, relatou ela no depoimento, ainda conforme o delegado.

Defesa

Em sua defesa, o advogado Marco Antônio Vasconcelos Alencar Júnior reforça a violência física e psicológica que sua cliente dizia sofrer. “Para preservar sua vida, ela acabou matando”, diz ele.

Segundo o advogado, Cláudia era impedida de ter uma vida fora do trabalho e da residência e também não podia ter acesso ao dinheiro do casal. “Todo o dinheiro deles estava no nome de terceiros e ela era obrigada a pagar as contas da casa com seu salário de professora.”

No dia do crime, Cláudia teria apanhado do marido e sido ameaçada de morte. “Ele disse que, se ela fosse ao encontro da escola, não passaria daquele dia.”

Após dar os medicamentos ao marido e sufocá-lo com uma sacola plástica, Cláudia teria se arrependido, mas por não saber o que fazer acabou colocando o corpo de Valdemir no freezer, afirmou Alencar.

Depois disso, a mulher ainda foi ao encontro com as amigas, numa pousada, e só na volta prestou queixa sobre o desaparecimento do companheiro.

Valdemir era motorista, tinha quatro filhos de um relacionamento anterior e uma filha com Cláudia.

Segundo o advogado dela, ambos tinham passagem pela polícia por contrabando de cigarros do Paraguai. “Ela foi mula dele, mas hoje Cláudia estava reabilitada e nada pesava contra ela”, disse o advogado.

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