Carine Corrêa

José Lincoln de Magalhães, diretor do Grupo JC, participou da entrevista à pesquisadora da Unesp - Rio Claro
José Lincoln de Magalhães, diretor do Grupo JC, participou da entrevista à pesquisadora da Unesp – Rio Claro

Pesquisadora na área ambiental desde 1967 e especialista em água há mais de dez anos, a Drª Sâmia Maria Tauk-Tornisielo é a entrevistada da edição deste domingo (26). A cientista é docente aposentada do Departamento de Ecologia, Instituto de Biociência da Unesp de Rio Claro, e atual pesquisadora do Centro de Estudos Ambientais (CEA) e ex-diretora do CEA.

JC – Como você enxerga a atual crise hídrica?

Sâmia – A partir do meu envolvimento nas pesquisas, foi possível detectar algumas problemáticas. Trabalhei com impactos ambientais, e foi no diagnóstico ambiental da Bacia do Corumbataí que verificava o uso e ocupação do solo dentro da Bacia. Observamos impactos ambientais negativos da cana-de-açúcar, polo cerâmico e da exploração do calcário. Tudo isso reflete na qualidade e quantidade de água.

Lincoln Magalhães (diretor do Grupo JC) – A crise é tão grave que, mesmo que chova abundantemente, você não recompõe toda a água.

Sâmia – Outro problema resultante da crise acarreta na qualidade da água. Têm substâncias que não se retiram no tratamento usual e demandaria processos mais caros e sofisticados.

JC – Afinal quem é o culpado: São Pedro ou a má gestão?

Sâmia – Precisava de um cuidado maior com uso e ocupação do solo, e essa questão não é respeitada. É necessária também a economia da água dentro das residências. Apesar das divulgações, ainda vemos o desperdício. É difícil mudar o comportamento humano. A crise resulta de uma somatória de fatores: a má gestão e a falta de consciência da população. O pensamento das pessoas ainda é do tipo “se eu pago eu posso gastar”. As pessoas estão focando o Sistema Cantareira, mas a crise se estende por todo o estado. Um dos agravantes é a quantidade de água demandada pelo setor industrial. A quantidade de água que se usa na irrigação, por exemplo, faz diminuir a vazão do rio. Se o sistema for equilibrado, você não perde água. Quando faz o uso para irrigação, por exemplo, demanda cerca de 70% de água de um sistema para a agricultura e essa água não retorna para ele. Falta ainda mais fiscalização e multas, parte da culpa é de órgãos, como a Cetesb, por exemplo.

JC – Quem demanda mais água: o setor industrial ou a população?

Sâmia – Em termos de dimensão, é a população. Mas, em relação aos processos industriais, por exemplo, é enorme a quantidade de água que se gasta para a produção do álcool.

JC – Em Rio Claro, como avalia as políticas públicas voltadas para o meio ambiente?

Sâmia – A administração atual tomou algumas atitudes em benefício das questões ambientais. A restauração dos canais de distribuição de água foi uma delas, já que antes a perda de água no município era de 53%. Outra melhoria foi a captura de esgoto pela Odebrecht Ambiental.

JC – Como ocorre o abastecimento de água em Rio Claro?

Sâmia – Ocorre através do Ribeirão Claro e do Corumbataí. Rio Claro é uma cidade privilegiada pela questão hídrica. Se os rios forem bem cuidados, nós não teremos problemas de abastecimento. Precisa cuidar dos cursos hídricos em todos os seus trechos, desde a nascente que abastece o rio. É um sistema vaso-comunicante. Portanto, o uso e ocupação do solo são importantes para a manutenção dos rios. Os cuidados com as nascentes são primordiais e têm sido ignorados. O complexo imobiliário está invadindo estas áreas e a responsabilidade é do município.

JC – Qual recado você deixaria para a população e aos órgãos públicos?

Sâmia – O caminho já está traçado. A gestão municipal tem que completar a coleta do esgoto. Há uma necessidade de maior rigidez com os rios urbanos e suas respectivas nascentes. A reposição de mata ciliar deve ser eficiente e dar resultado. Fazer um acompanhamento prolongado dessa vegetação de cinco a dez anos. O ato do cidadão também deve ser revisto não só em tempos de crise.

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