Zélia segura foto dos filhos Ana Carolina e Edmundo; a empresária doou os órgãos do filho que faleceu após um acidente

Laura Tesseti

O Brasil teve o melhor primeiro semestre da história no número de doadores efetivos de órgãos, tanto em números absolutos quanto na taxa por milhão de população (PMP).

Os dados oficiais do Ministério da Saúde demonstram que entre janeiro e junho deste ano, 4.672 potenciais doadores foram notificados, resultando em 1.338 doadores efetivos de órgãos. Essas doações possibilitaram a realização de 12.2 mil transplantes.

Nesse mesmo período, o Brasil alcançou a maior porcentagem de aceitação familiar, que foi de 58%, superando os demais países da América Latina.

Zélia segura foto dos filhos Ana Carolina e Edmundo; a empresária doou os órgãos do filho que faleceu após um acidente
Zélia segura foto dos filhos Ana Carolina e Edmundo; a empresária doou os órgãos do filho que faleceu após um acidente

QUESTÃO CULTURAL

Para Ricardo Garcia, médico presidente da Comissão Intra hospitalar de doação de órgãos e tecidos da Santa Casa de Rio Claro, é preciso uma mudança cultural. “A morte mudou, antes as pessoas acreditavam que o ente querido morria apenas quando o coração parava de bater, mas a morte hoje é diagnosticada quando não existe mais a presença de função cerebral. Diagnosticamos a morte encefálica e a partir daí os procedimentos para doação podem ser realizados, se assim a família autorizar e respeitar a vontade do doador.”

O médico explica que a morte encefálica é irreversível e que a vontade de doar os órgãos após a morte deve ser discutida em família. “Não sabemos o que irá nos acontecer, então se temos essa vontade, precisamos passar para nosso responsável legal, que irá autorizar o procedimento quando necessário”.

O procedimento é bastante exato e após o anúncio da autorização da doação, a Unicamp é contatada e todos os exames são feitos para analisar a compatibilidade. “Após isso, equipes partem para a retirada dos órgãos para serem transplantados. O procedimento necessita de rapidez”, explica Garcia.

O processo de retirada e de recolocação dos órgãos é chamado de isquemia fria. Um coração aguenta de quatro a seis horas sem estar dentro do corpo de uma pessoa. “Quando a família é doadora, o corpo do ente é liberado para os procedimentos de velório e enterro de 24 a 36 horas, pois após a autorização da doação, diversos procedimentos são realizados”, fala.

O coração é o primeiro órgão a ser retirado quando existe o transplante. E a família recebe todas as informações sobre os órgãos que foram doados.

SANTA CASA

Em Rio Claro a Santa Casa registra mensalmente 30 óbitos e, apenas, 10 captações de órgãos por ano. “Esses números são baixíssimos, precisamos ter a consciência que a doação de órgãos é um ato de extremo amor pelo próximo. São vidas que podemos salvar”, pondera o médico.

ATO DE AMOR

Para Zélia Rodrigues Soares, empresária, o ato é uma questão muito maior do que pensar apenas em si e na família. A empresária perdeu o filho Edmundo Soares Meyer de 15 anos em um acidente de trânsito há alguns anos e optou pela doação dos órgãos que puderam ser transplantados. “O Edmundo ficou cerca de 15 dias internado na UTI antes de falecer, eu não me arrependo do ato, pois se não pudermos ajudar ou outros, o que faremos”, questiona.

Zélia conta que a falta que sente do filho é dolorosa, mas que as pessoas precisam ser menos egoístas e sabem que podem salvar vidas.

Além de Edmundo a empresária também é mãe de Ana Carolina Meyer de 24 anos e está grávida de seis meses de mais uma menina. “Acredito no propósito de tudo, inclusive no de Deus, então pedi clareza naquele momento e percebi que o melhor a se fazer era ajudar o próximo, dando a chance de meu filho viver em outras pessoas”, finaliza, emocionada.

Garcia finaliza explicando que todos os órgãos podem ser doados, alguns dele até mesmo depois que o coração parou de bater, como ligamentos do joelho, ossos, córneas, válvula cardíaca e pele.

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