Tarifas impostas por Trump já afetam duramente a indústria cerâmica

Vista do polo industrial de Santa Gertrudes, em São Paulo, a capital nacional da cerâmica de revestimento. Foto: Agência Senado/Alesp

Setor prevê queda de 80% nas exportações para o mercado americano

As tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos já impactam duramente a indústria brasileira de revestimentos cerâmicos. Segundo Sergio Wuaden, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (Anfacer), a previsão é de uma retração de até 80% nas exportações para o mercado norte-americano, que no último ano representaram US$ 95 milhões em receita para o setor.

Os produtores já enfrentam desafios no país, com 30% de capacidade ociosa e alta competitividade, que impede ganhos de preço e margem. A produção nacional recuou 0,9% no primeiro semestre, para 400 milhões de metros quadrados.

De janeiro a junho, o Brasil exportou 11% da produção, em volume. Disso, um quinto para os Estados Unidos, país que depende dos produtos que vêm de fora.

Em entrevista ao Jornal Valor Econômico, Wuaden explica que os fabricantes americanos de cerâmica só conseguem atender 30% do mercado. O Brasil é um exportador importante para eles, mas mais ainda é a Índia, que também foi taxada em 50% — a nação havia recebido uma taxa de 25%, dobrada nesta semana. Os consumidores americanos devem esperar aumentos de preço. Tudo isso gera um “tumulto” no mercado, diz.

Ele também é diretor do grupo Lamosa no Brasil, que produz as marcas Roca Cerámica e Incepa. A empresa direciona 30% da sua produção aos EUA, bem acima da média do setor. Ou direcionava, porque a carteira de pedidos para o país já caiu 80% desde abril, quando a primeira tarifa, de 10%, foi anunciada, conta o executivo.

Das três fábricas que mantém no Brasil, uma delas, em Campo Largo (PR), na região metropolitana de Curitiba, é quase totalmente dedicada à produção para os EUA. Ali, segundo Wuaden, será possível manter a planta por mais três meses, já contando com intervenções como férias coletivas e demissões.

COMPETIVIDADE

O Diretor de Relações Institucionais da Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (ASPACER), Luís Fernando Quilici, defendeu que o governo brasileiro além de adotar medidas diplomáticas e comerciais para reestabelecer o fluxo das exportações brasileiras aos EUA, atue também para reduzir o preço do gás natural, insumo que representa cerca de 30% do custo de produção na indústria de revestimentos cerâmicos.

Segundo Quilici, um dos principais entraves para a competitividade da indústria cerâmica nacional é o elevado custo da molécula, escoamento, processamento e transporte no Brasil. Para o consumidor industrial, a tarifa do gás pode chegar a até cinco vezes o valor praticado no mercado internacional. Ele destaca ainda, que países como EUA e Oriente Médio se beneficiam de insumos mais acessíveis, especialmente o gás de xisto, o que lhes confere vantagens estratégicas. “Uma alternativa seria o governo brasileiro atuar para reduzir o preço do gás. Isso permitiria avançarmos em direção a uma política energética mais eficiente e competitiva para a indústria nacional’, defende.

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