PT usa ex-prefeitos para ganhar fôlego no entorno da Grande SP

GÉSSICA BRANDINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –

Na tentativa de retomar o comando de cidades da região metropolitana de São Paulo, o PT aposta em ex-prefeitos para sair vitorioso das urnas. A estratégia se repete em seis cidades, o equivalente a metade dos municípios já governados pela sigla nos últimos 20 anos com candidaturas em novembro.
Em 2016, na esteira do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o partido foi praticamente varrido da região metropolitana, assumindo apenas uma prefeitura, a de Franco da Rocha, contra nove na eleição anterior.
Agora, o PT está na disputa de 25 das 39 cidades da Grande São Paulo, sem contar a candidatura de Jilmar Tatto na capital. Desde 2000, 17 municípios da região já elegeram ao menos uma vez prefeitos da sigla, segundo dados do TSE disponibilizados pelo Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (Cepesp Data/FGV).
O secretário-geral do PT no estado, Chico Macena, diz que, além de ex-mandatários, o partido aposta em pessoas já reconhecidas na política local. “São pessoas jovens do ponto de vista de uma geração e já com uma bagagem política e capacidade”, diz, citando as vereadoras Bete Siraque e Rosângela Santos, que disputam as prefeituras de Santo André e Embu das Artes, respectivamente.
Embu das Artes e Guarulhos são as cidades onde o PT governou por mais tempo neste século. Foram quatro mandatos consecutivos em cada. Osasco e Santo André tiveram três vitórias do partido desde 2000.
Foi durante o segundo mandato de Lula na Presidência que o partido teve o seu melhor resultado na Grande São Paulo, com 11 prefeitos em 2008. Naquele ano, Luiz Marinho, que comandou dois ministérios de Lula, foi eleito pela primeira vez prefeito de São Bernardo do Campo, cargo que disputa novamente.
Na ocasião, Marinho desfilou pelas ruas da cidade ao lado do então presidente. Foi também em parceria com o governo federal que o prefeito obteve recursos para obras na cidade, mesmo efeito que beneficiou os governos de Elói Pietá em Guarulhos e de Emídio de Souza em Osasco.
Esse legado promete embalar a candidatura dos três petistas, que governaram os municípios por dois mandatos. Em Guarulhos, pesquisa Ibope realizada nos dia 25 e 28 de setembro com 805 eleitores mostra Pietá tecnicamente empatado com o atual prefeito e candidato à reeleição, Gustavo Henric Costa (PSD), o Guti.
O mandatário tem 25% das intenções de voto, contra 22% de Pietá, que governou a cidade de 2001 a 2008. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Em uma simulação de segundo turno, a posição se inverte, mas segue o empate técnico: Pietá com 38%, e Guti com 36%.
O ex-prefeito petista é menos rejeitado que o atual ocupante do cargo, mas ambos são os mais rechaçados pelos entrevistados. Não votariam em Guti de jeito nenhum 31%. Em Pietá, 26%.
Também retornam ao pleito de 2020 os ex-prefeitos José de Filippi, em Diadema, Sergio Ribeiro, em Carapicuíba, e Ramon Velasquez, em Rio Grande da Serra.
Num contexto de pandemia, a presença física de Lula em atividades de campanha é incerta. Ao final de outubro, o ex-presidente completará 75 anos. Ele tem seguido a quarentena desde o início da pandemia, em março, segundo integrantes do partido, e usado a internet para fazer política.
“[Lula] Está com uma disponibilidade incrível, porque tem participado de muitas lives e reuniões com a militância. Agenda física nós não sabemos”, afirma Macena.
Pietá sonha com a presença do ex-presidente na campanha. “Lula foi o presidente que mais ajudou Guarulhos e nos ajudou a construir o maior hospital da cidade. Se depender dele, aparece na campanha”, diz. O ex-presidente mora em São Bernardo, onde começou na política como líder sindical, ao comandar greves de metalúrgicos no final dos anos 1970, durante a ditadura militar.
Na cidade, ele recebeu o apoio de militantes nas horas que antecederam sua prisão, em abril de 2018, após condenação em segunda instância pela Lava Jato.
Presidente do PT no estado, Marinho afirma que a sigla prepara formas de fazer a imagem de Lula circular pelo país, assim como a do ex-prefeito Fernando Haddad e da ex-presidente Dilma.
“É uma liderança que respeitamos e é respeitada. Há quem o odeie e quem o ame. Acima de tudo, ele nos representa e lidera. [O Lula] participará de forma efetiva das nossas campanhas, não só da minha”, afirma o petista, acrescentando que a presença física dependerá da liberação dos médicos.
“Quando os profissionais da saúde liberarem, provavelmente ele participará”, diz.
Ex-advogado de Lula, Emídio destaca que essa será uma campanha diferenciada, com menos corpo a corpo e mais interação nas redes sociais.
Ainda que não esteja presente em carreatas, Lula tem contribuído para nacionalizar o discurso da campanha, com críticas à condução da pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como na mensagem divulgada no feriado do 7 de Setembro.
O tom também marca as peças divulgadas pelo partido, sob o slogan “Na hora do vamos ver, quem defende você é o PT”, destacando programas nacionais, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
Macena afirma que a crítica da legenda é feita às políticas do governo e que o impacto da pandemia na economia dos municípios e no desemprego afetará diretamente as realidades locais.
“Parece que a gente fala que tem um debate nacional a ser feito descolado dos municípios e não é isso. Debate nacional a ser feito é sobre o cotidiano das pessoas e inclusive das perspectivas de cada prefeitura no âmbito local resolver os problemas”, diz.
A polarização com o PSDB em algumas cidades, como São Bernardo do Campo, também deve marcar mais uma vez a retórica dos candidatos petistas, mas, na avaliação de Macena, os tucanos estão enfraquecidos com a divisão da centro-direita.

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