Sair da própria bolha

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Agora que o clima está esquentando, para não dizer fervendo, com o início da CPI da Pandemia no Senado, alguns ministros vêm aconselhando Bolsonaro a deixar de falar para a própria bolha e a usar máscara. Acostumado a falar para o seu grupo, Bolsonaro tem muita dificuldade para se comunicar com a população como um todo.

Eu penso que, se Bolsonaro não mudou até agora, após tanta pressão, nesses dois anos anos e quatro meses de governo, não será agora que irá mudar o seu comportamento. E mesmo que mude soará artificial, carecerá de credibilidade.

Bolsonaro parece um menino teimoso, com poderes maiores do que deveriam ser atribuídos a alguém que age por impulso, na base do grito e do seu humor, não da razão.

Causou espécie a declaração do ministro da Casa Civil, General Ramos, de que tomou a vacina contra a Covid-19 escondido para não criar caso com o presidente, que até agora se mostrou refratário a fazer o mesmo e também a usar máscara.

Agora que o Brasil atingiu a marca trágica de 400.000 mortes pela Covid, ainda temos que conviver com declarações infelizes e até jocosas do presidente em relação à pandemia.

No Senado, senadores bolsonaristas insistem em tumultuar a CPI, usando dos mais variados recursos: fake news, intimidação e dossiês, para impedir a instalação da mesma, o que só fomenta o caos e faz com que os senadores imbuídos da responsabilidade de apurar a conduta atabalhoada do governo ainda queiram se aprofundar mais nesse labirinto. Bolsonaro agiu em relação à pandemia desde o início em uma espécie de sabotagem, mostrando-se refratário a comprar vacinas, quando elas surgiram, incentivando o tal tratamento precoce, cuja eficiência não foi comprovada por estudos científicos sérios, no Brasil e em vários outros países.

Bolsonaro dificilmente sairá da sua bolha. Tudo indica que continuará tendo um comportamento ciclotímico, avesso a uma realidade que se mostra dramática, com o número de mortes e de contaminados altíssimo. Não teríamos esse morticínio caso o comportamento do governo fosse outro, estimulando o uso de máscara e o distanciamento social. Infelizmente, Bolsonaro foi sempre na direção contrária, na contramão do bom senso. Como negar esse fato? Não vejo nenhum argumento que possa sustentar e justificar esse comportamento totalmente fora do compasso.

Bom final de semana.

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