Rio Claro registra 96 acidentes com escorpiões em 2025; especialista explica riscos e cuidados

Imagem: Ilustrativa. Foto: Mauro Schaefer | @mauroschaeferfoto

Infectologista da Santa Casa detalha quando o soro é necessário e como agir em caso de picada; prevenção é a principal medida contra o aracnídeo

Os meses de agosto e setembro são conhecidos por serem períodos de reprodução dos escorpiões. Em Rio Claro, segundo o Painel de Monitoramento de Acidentes por Animais Peçonhentos, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), até o presente momento foram registradas 96 ocorrências. Nenhum caso de óbito consta nos registros.

A Prefeitura Municipal informou que o Centro de Controle de Zoonoses realiza visitas e orientações relacionadas ao aparecimento de escorpiões. No caso de surgimento desses animais, as solicitações devem ser feitas via Ouvidoria Municipal, pelo telefone 3526-7105, para que a equipe vá até a residência e possa orientar os moradores sobre cuidados preventivos. Os moradores nunca devem manusear os escorpiões.

Ainda segundo a Prefeitura, o uso de veneno para eliminar os aracnídeos tem baixa eficácia. A principal orientação é em relação ao descarte correto de materiais, já que o acúmulo de entulho favorece a proliferação de escorpiões.

Os escorpiões também se alimentam de baratas, daí a importância de redobrar os cuidados para que as baratas não apareçam e não sirvam de atrativo. Esses animais normalmente ficam nas redes de água e esgoto e têm como porta de entrada das residências ralos e rede elétrica. Por isso, é importante que as tomadas tenham espelhos e que os ralos sejam fechados.

Saiba como se proteger e o que fazer em caso de acidente

Em casos de acidentes, o que muita gente pode não saber é que o soro – disponível na cidade de Rio Claro e enviado pelo Governo do Estado – não necessariamente precisa ser aplicado.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a distribuição de soro escorpiônico acontece por meio do Centro de Distribuição e Logística da pasta, que encaminha os insumos aos Grupos de Vigilância Epidemiológica (GVEs), responsáveis pela distribuição aos municípios de sua área de abrangência.

A divisão por cidade é feita a partir de análise epidemiológica mensal, que considera os casos notificados no mês vigente, a prevalência local e o número absoluto de acidentes, entre outros fatores. Dessa forma, a quantidade de ampolas enviadas varia conforme o perfil epidemiológico da região e do período.

Dra. Suzi Berbert é médica infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro, atua na rede municipal e dá as orientações necessárias, de forma clara, sobre como proceder em casos de acidentes

O que fazer quando for picado por um escorpião?

A primeira atitude é manter a calma, lavar o local com água e sabão e procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo. Não se deve amarrar o braço ou a perna, nem colocar café, fumo, álcool ou qualquer outra substância sobre a picada.

Em quanto tempo o atendimento deve acontecer?

O atendimento precisa ser rápido. Nas crianças, especialmente as menores de 10 anos, o risco de complicações é maior, por isso a ida imediata ao serviço de saúde é fundamental.

Existem casos em que o soro não é necessário? Por qual motivo?

Sim. Existe um sistema de classificação do acidente envolvendo escorpiões, e a maioria causa apenas dor local intensa, sendo classificados como acidentes leves. Nesses casos, o tratamento é feito com medicação para dor. O soro antiescorpiônico é indicado somente quando aparecem sintomas mais graves, como suor excessivo, náusea, vômito, dificuldade para respirar ou alterações no coração (acidentes moderados e graves).

A cidade de Rio Claro é capacitada a atender pacientes do município e da região?

Sim. Rio Claro possui serviços preparados para atender acidentes com escorpiões tanto na rede básica quanto em prontos atendimentos e hospitais, públicos e privados. Os casos leves em adultos podem ser tratados nas unidades básicas de saúde ou serviços de pronto atendimento. Todos os casos moderados, graves e todas as crianças com até 10 anos de idade são encaminhados, após avaliação inicial, para a Santa Casa de Rio Claro – Unidade Nossa Senhora de Lourdes, referência regional para tratamento com soro antiescorpiônico e suporte hospitalar intensivo.

Qual a diferença da ação do veneno entre crianças, adultos e idosos?

O veneno do escorpião é proporcionalmente mais forte em crianças, porque a quantidade injetada é grande em relação ao peso. Por isso, elas correm maior risco de complicações graves. Adultos, na maioria das vezes, apresentam apenas dor. Já os idosos ou pessoas com doenças do coração, pressão alta ou problemas nos rins também podem evoluir com quadros mais sérios.

Como prevenir o surgimento de escorpiões?

A melhor forma de evitar escorpiões é cuidar do ambiente em que vivemos. Eles gostam de se esconder em locais escuros, úmidos e com acúmulo de materiais. Por isso, é importante manter quintais sempre limpos, sem entulhos, restos de obra ou lixo acumulado. Dentro de casa, ralos e frestas em portas e paredes devem ser bem vedados, e o uso de telas em ralos e pias ajuda a impedir a entrada desses animais. Quem for mexer em madeira, tijolos ou entulhos deve sempre usar luvas e calçados fechados, já que esses locais são abrigos comuns. E é essencial orientar as crianças a não brincar em locais de risco, porque elas são as mais vulneráveis. Com medidas simples de limpeza, cuidado e atenção, conseguimos reduzir bastante a presença de escorpiões.

Laura Tesseti: