Marcelo George Mungai Chacur conta como o labrador George chegou e mudou sua vida
Nascido em São Paulo mas morando em Rio Claro, no bairro Cidade Jardim, Marcelo George Mungai Chacur tem 56 anos e uma história de superação diária. Ele nasceu com baixa visão, uma doença degenerativa de retina, que causou gradativa perda visual ao longo da vida. A barreira não o impediu de seguir em frente. Professor universitário de Medicina Veterinária, pesquisador científico e aposentado, é também escritor, intelectual e atuante na defesa da causa das pessoas com deficiência.
Nesta entrevista ele conta como é ter ao seu lado um cão-guia ou também conhecido como cão de assistência. O labrador de nome George está com três anos e é mais que um companheiro para Marcelo.
JC: Qual a finalidade do cão-guia?
Marcelo: “A finalidade de um cão-guia é desviar de obstáculos no chão e aéreos além de vários comandos de voz para que ele realize tarefas pedidas, por exemplo: encontrar escadas fixas ou rolantes, encontrar faixas de travessia, encontrar portas de entrada e de saída de estabelecimentos comerciais, encontrar assentos vazios em transporte coletivos e/ou salas de espera, dentre outros comandos. A Lei Federal 11.1226 de 2005 permite o acesso e a permanência da pessoa com deficiência visual e seu cão-guia, em qualquer local público ou privado, com o fim de guiar a pessoa nos ambientes, por exemplo: restaurantes, padarias, farmácias, igrejas, lojas comerciais, shopping , hospitais, clínicas médicas ou laboratórios, bancos, edifício comerciais ou residenciais e demais estabelecimentos. Na permanência nestes locais, o cão-guia fica sentado ou deitado junto a pessoa com deficiência visual e assim permanece até que receba um novo comando, passando despercebido, pois é treinado também para esta finalidade”.
JC: Em que momento você decidiu que seria importante ter um cão-guia e como foi o processo para adquirir?
Marcelo: “Conheci uma pessoa que possui cão-guia durante um evento literário e me informei sobre o processo seletivo de inscrição para obter um. É obrigatório a pessoa com deficiência visual ter mais de 18 anos, possuir orientação e mobilidade, e, passar por um processo com várias etapas de seleção”.
JC: Como as pessoas/cidadãos devem se comportar/conviver com um cão-guia?
Marcelo: “As pessoas quando encontrarem um cão-guia trabalhando podem conversar com a pessoa com deficiência visual, mas não devem interagir e distrair o cão-guia, para que o foco de trabalho de guiar, não seja comprometido. O cão-guia pode ser afagado, desde que autorizado pelo seu usuário”.
JC: Qual a rotina de um cão-guia, existe algum cuidado diferenciado?
Marcelo: “O cão-guia, em casa, está fora de trabalho, logo tem uma rotina igual aos outros cães, com brincadeiras e interações com as pessoas e animais. O cão-guia é submetido a uma dieta alimentar específica, carteira de vacinação em dia, vermifugações e demais cuidados de saúde. Ele tem as identificações documentais comprobatórias de que de fato é um cão-guia graduado, como o número do registro em carteira de identificação portada pelo usuário, placa de identificação de cão-guia na coleira e os dados de seu usuário, e guia de trabalho específica para cão-guia. O George me acompanha em todos os lugares da minha rotina, desde o horário da manhã até o retorno a minha casa, nas mais diversas atividades do cotidiano. O cão-guia é um companheirismo de caminhadas mais seguras e mais dinâmica, em relação ao uso da bengala longa para cegos, aumentando a autonomia de deslocamentos e atividades da pessoa com deficiência. Para os interessados existe uma escola de formação de cão-guia no município de Salto de Pirapora, SP, cuja inscrição para o processo seletivo pode ser feita no site do Instituto ADIMAX – institutoadimax.org.br”.
Sobre o cão-guia
Toda última quarta-feira do mês de abril, o dia do cão-guia e seus treinadores é comemorado internacionalmente. A primeira tentativa registrada de treinar os animais para esta finalidade foi em 1780, na França.
Esses cachorros têm a função de oferecer às pessoas com deficiência visual segurança na locomoção, melhora do equilíbrio emocional e na socialização.
Além de transporte por aplicativos, táxis e ônibus também devem transportar os cegos e seus cães-guias sem nenhum tipo de preconceito ou discriminação.
Conheça algumas curiosidades sobre o cão guia:
- Quando um cão-guia se aposenta, pode ficar com seu tutor. No caso de eventual impossibilidade deste tutor, o cão pode ficar com uma família com quem ele já tenha afinidade, como por exemplo, um parente ou amigo próximo de seu antigo tutor.
- A escolha das raças dos cães-guia depende muito da cultura de cada país. O labrador e o golden retriever são as raças mais utilizadas atualmente.
Como os cachorros são treinados? Esse trabalho se divide em três etapas fundamentais: socialização, treinamento e instrução. O processo é concluído quando o cão tem entre um ano e meio e 2 anos de idade.
Cada usuário tem uma “política educacional” com o cão-guia. Pergunte qual forma e qual o momento são adequados para que os colegas possam interagir com o cão. A interação controlada é muito benéfica para todos.