Marco zero das quatro rodas em Rio Claro

Foto: Arquivo Pessoal

Como, há cem anos, um Chevrolet e a ousadia de João Sartori levaram a cidade para uma nova direção

Antes do asfalto, havia a poeira. Antes do ronco dos motores, o apito das locomotivas dominava o ar. Foi nessa Rio Claro de ruas de terra, onde o horizonte era traçado por trilhos, que um homem sonhou com um caminho diferente.

Por volta de 1925, João Sartori, então com seus 30 anos, trouxe para a cidade não apenas um automóvel, mas um símbolo do futuro: um Chevrolet 1925, devidamente licenciado pela Prefeitura e que ele adquiriu na cidade de São Paulo. Naquele instante, o Século XX havia finalmente chegado à pacata cidade, com todo o seu romantismo mecânico.

Foto: Arquivo Pessoal

De terno alinhado e chapéu, e com o título de chofer, ele fez de seu Chevrolet uma carruagem moderna para padres, professores e autoridades que ousavam cruzar os caminhos improvisados até a capital. João Sartori não se limitava a dirigir, abria rotas que, mais tarde, se tornariam estradas.

Sua função, no entanto, mostrou-se vital. “Nem o delegado tinha carro”, relata o neto, Sérgio Sartori, médico obstetra e guardião dessa memória. “Quem levava a autoridade para as diligências era o meu avô, no seu Chevrolet”, conta ele, com um sorriso de orgulho.

Foto: Arquivo Pessoal

A única foto e os documentos resistiram ao tempo: a licença municipal de 1925 para trabalhar (foto acima)e a matrícula de condutor assinada pela Delegacia de Polícia (foto abaixo).

O legado, no entanto, não parou nele. Seu filho, Fernando Sartori, aprendeu a dominar a máquina sobre as mesmas rodas e, segundo os documentos da família, recebeu a 50ª autorização para dirigir na cidade. Sérgio supõe que o carro tenha sido vendido cerca de 15 anos depois, sendo substituído por outros.

João Sartori, em seu Chevrolet 1925, acelerou o ritmo de Rio Claro, trazendo para sempre para a cidade azul o ronco do motor.

Os primeiros

João teve a primeira moto da cidade, e os Sartori ainda abriram a primeira autoescola e organizaram o primeiro desfile de carros em Rio Claro.

Sérgio Sartori guarda a memória do avô, João, que colocou Rio Claro sobre quatro rodas. Foto: Arquivo Pessoal
Nathalie Oliveira: