Ensino religioso nas escolas: qual conteúdo deverá ser trabalhado?

Vivian Guilherme

Unidades que já trabalham o ensino religioso no país abordam ética, moral e cultura

Muito debatido e discutido em Rio Claro, o Plano Municipal de Educação foi sancionado pelo prefeito Du Altimari e divulgado no Diário Oficial no final de junho. Uma vez aprovado pelo Legislativo – em duas tumultuadas sessões camarárias – e promulgado pelo Executivo, o plano segue para a execução de fato, porém não sem antes passar por avaliação da Secretaria de Educação.

Dentre as emendas aprovadas, a que mais chamou a atenção da comunidade foi a inclusão do Ensino Religioso na grade curricular. Questionada sobre o modo como as emendas seriam implantadas efetivamente, a assessoria da prefeitura informou que “as metas e as estratégias do plano serão avaliadas e planejadas”.

Nas redes sociais, muito se debateu sobre o conteúdo dessa nova disciplina. Alguns defendem que todas as religiões devem ser abordadas no processo. Em algumas escolas particulares que já adotaram a disciplina o programa conta com noções básicas de ética, moral e convivência entre os alunos.

Para Pai André, do Templo de Umbanda Vovô Serafim e Ogum Três Espadas de Rio Claro, a questão de religião tem que ser discutida com a família e não na escola. “O jovem na escola tem que aprender a conhecer o seu país, aprender economia, são assuntos mais abrangentes. Temos que entender que o Brasil é um país 100% cristão. Não sou a favor de ensinar religião na escola”, comenta o religioso, que defende o ensino de outra disciplina nas unidades escolares: “sou a favor do ensino de cultura africana nas escolas, o que simboliza o resgate da história e da cultura, é uma questão cultural”.

O padre Antônio Sagrado Bogaz aprova a ideia do ensino religioso, entretanto defende que o conteúdo deve ser focado no fenômeno religioso, e não em doutrinas religiosas. “Não se trata de catequese, que deve ser dada pelas respectivas igrejas, onde seus fiéis participam, se quiserem. Neste caso, o ensino religioso deve ser visto como uma aproximação ética, cultural e humanista do ser humano, como se fosse uma fenomenologia religiosa, sem confessionalidade. Não se trata de ensinar doutrinas particulares das religiões, mas o fenômeno religioso, hoje fundamentado num curso superior chamado ‘ciência das religiões’”, aponta Bogaz.

Na opinião do padre, a inclusão da nova disciplina traz uma proposta de reavaliação dos valores humanos. “Quando observamos os quadros curriculares das escolas, os estudantes são tratados como propostas de progresso e lucro, sem preocupação com os valores humanos. Como consequência disso, temos hoje profissionais e certos cursos superiores que aprendem a manipular o comércio e ganhar dinheiro, mas não têm nenhuma formação ética e humana. Assim, são profissionais mercenários, que não servem o bem comum, mas servem-se da ‘res-pública’ para enriquecimento, tão mais rápido e tanto maior”, acusa o padre.

Para a pedagoga e doutoranda em Educação na Unesp RC, Rosemeire Archangelo, o conteúdo a ser trabalhado no ensino religioso deve se pautar no que diz a legislação. “Não é possível atender apenas uma religião, mas trazer todas as religiões, sem proselitismo. Abordar desde as religiões africanas, cristã, islâmica, deuses venerados pelos indianos, os calendários cristãos, indígenas, maias, entre outras abordagens.

É preciso ficar claro que a legislação não permite abordar apenas um tipo de religião, e que a matrícula deverá ser facultativa para a criança”, comenta a professora que lembra ainda que os vereadores aprovaram a lei e não levaram em conta o impacto financeiro que a implantação do ensino religioso vai causar.  “Além disso, não consideraram as prioridades do PME, como a universalização da pré-escola, aumento de vagas na creche e valorização dos professores”, aponta a pedagoga.

Adriel Arvolea: