Cidade Azul conta com uma ampla rede de serviços socioassistenciais para mulheres

Favari Filho

Bell informou que durante a Semana da Mulher uma assessoria jurídica prestou serviço para mulheres nos oito CRAS da cidade

Assessora e coordenadora do Centro de Referência de Atendimento à Mulher, órgão integrado ao Departamento de Políticas Especiais, Bell Rezende está à frente do serviço que tem como objetivo difundir e ampliar as políticas públicas para a mulher desde maio de 2010.

O Café JC recebe a assistente social – que também é artesã, cuidadora de idosos e empreendedora – para contar um pouco sobre a brilhante luta que vem travando em prol dos direitos das mulheres.

Jornal Cidade: Como você descobriu que tinha jeito para lidar com as questões de gênero?

Bell Rezende: Quando voltei para Rio Claro, em 1996, comecei a participar do Fórum das Mulheres. Ainda não conhecia ninguém no coletivo, mas aos poucos fui me envolvendo. Depois, no Consulado da Mulher, aprendi muito mais que artesanato, pois entrei em contato pela primeira vez com a questão de gênero. A partir de então, realizávamos encontros em varias regiões até que surgiu a assessoria e, como para ocupar a vaga era preciso alguém com o mínimo de participação, fui indicada pela vereadora Raquel Picelli.

JC: Como você descreveria o seu trabalho?

Bell: O meu trabalho é fazer articulação política, mas como as mulheres me conhecem acabam procurando para conversar sobre os problemas. O que faço é ouvir e encaminhar para o Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência Social] ou para o Cram [Centro de Referência de Atendimento à Mulher] para que sejam atendidas por especialistas, aliás, hoje, Rio Claro tem uma Rede que trabalha no enfrentamento contra a violência à mulher, mas ainda há muito o que conquistar. Agora, estamos trabalhando para que a delegacia da mulher retome as atividades e a bancada feminina da Câmara tem colaborado muito com a questão.

JC: Como ocorre a violência contra a mulher?

Bell: Acontece na maioria dos casos no espaço privado, pelo próprio marido ou companheiro. Hoje, temos também muitos casos de violência nas relações homossexuais. Com a vivência que tenho, percebo que cada mulher tem um estágio e, quando procura o serviço, é porque já está exaurida. São muitos fatores que a impedem de denunciar o agressor, a vergonha, os filhos, etc.

JC: Quais os tipos mais recorrentes de violência?

Bell: A violência contra mulher não tem classe, não tem raça e não tem idade, mas tem muitas formas: a física, a psicológica, a étnica e a religiosa. Entretanto, a violência psicológica está entre as piores, pois acaba com a autoestima da mulher. A observação evidencia a violência, uma vez que mulheres caladas demais, com o corpo coberto demais, podem estar tentando dizer algo, é preciso atenção. Um vizinho, por exemplo, que notar qualquer sinal de violência, precisa ser solidário e denunciar anonimamente pelo telefone 180.

JC: O que você tem a dizer sobre a situação da mulher negra no Brasil?

Bell: Os espaços na sociedade estão se abrindo, mas não podemos perder de vista que ainda existe o preconceito e o racismo que, infelizmente, já fazem parte da sociedade, contudo não podemos enfraquecer porque os nossos ancestrais sofreram muito para a gente estar aqui, temos que continuar a luta para honrar os antigos guerreiros. É preciso levantar a cabeça e seguir em frente. No que diz respeito à violência, o índice de casos com a mulher negra é muito maior, mas não somente, veja o caso do Seu Benedito, foi um alerta. Espero que esse tipo de coisa não aconteça mais em nossa cidade e nem em lugar nenhum. Mas também há avanços, a aprovação das cotas é um sinal significativo de mudança.

JC: Quais as metas para o futuro?

Bell: O intuito é criar um plano municipal de políticas para as mulheres para os próximos dez anos, além do Guia de Atendimento às Mulheres. Rio Claro é a única cidade do Brasil que elaborou A Carta das Mulheres e foi onde tudo começou. Hoje, temos o Cras, o Creas, o Cram, o IML para atendimento exclusivo de mulheres. Com isso, foi formada a Rede, porém ainda falta uma Casa Abrigo para as mulheres que correm risco de morte.

Redação JC: