Lourenço Favari
O cachorro brincando de corda com meninos no subúrbio do Rio de Janeiro, gravado em vídeo e que circula pela internet desde terça-feira (29), foi notícia em quase todos os meios de comunicação. O vídeo viralizou na rede e provocou reações até nos durões.
A gravação levanta uma discussão que sempre está à tona nas redes e rodas sociais: o animal de estimação é capaz de pensar?
Em entrevista ao JC, o adestrador Valmir Silvestre Caro, que há 10 anos trabalha na área, explicou que o ser humano projeta sentimentos que sente no animal. “O animalzinho sempre espera uma recompensa depois de algum feito, seja pular corda, obedecer a um comando”, frisa
Para o adestrador, os feitos dos animais não são coisas anormais, mas instintivas. “Não é fora do normal ele pular corda ou mesmo bater a corda. Na hora de pular é como se estivesse pulando os galhos atrás de uma presa, e o mesmo na hora de bater a corda, porque é como se ele estivesse disputando uma presa”, explica ao lembrar que o animal não consegue definir se do outro lado da corda, por exemplo, é “animal ou ser humano”.
É claro que nem todo mundo pensa desta forma, como é o caso da manicure e “gateira” (como gosta de ser chamada referindo-se à paixão por gatos) Talita Bonato Almeida. “Existem estudos que comparam a inteligência de um cão à de uma criança de três anos”, rebate.
Para ela, os animais têm consciência de si, ou seja, pensam. “Pelas minhas experiências com animais, a sensação que tenho é que é além do instinto. Assim como nós, eles têm um amadurecimento emocional”, analisa.
O garçom Gabriel Santos Ortiz da Silva é mais ponderado e acredita que os animais não pensam da mesma forma que os seres humanos. “É complicado, eles não pensam como nós, têm um intelecto mais instintivo”, diz. Mesmo assim, para ele o animal mantém personalidade. “Uma prova disso é a personalidade deles. Conheço um cachorro que prefere brócolis do que carne”, analisa.
“CONTEÚDO ‘VIRAL’ É UMA ESPÉCIE DE CAPITAL SOCIAL”, DIZ ESPECIALISTA
Para coordenador de tecnologia, muitas variáveis fazem conteúdo “viralizar” e os que atingem este nível hoje podem ser ignorados amanhã
Fenômeno. Desta forma pode ser descrito o conteúdo que se espalha nas redes sociais. Vídeos, fotos, memes e gifs com centenas de milhares de curtidas e compartilhamentos pautam meios de comunicação e supostamente indicam o que a audiência quer.
Conhecido como conteúdo “viral”, pode ser melhor definido como mídia propagável, conforme define o coordenador de tecnologia Ibrahim Cesar. “As pessoas usam o termo ‘vídeo viral’ de uma forma errônea, como se um vídeo fosse criado para ser viral. Ele apenas se torna”, explica o especialista no assunto, que cita o pesquisador de mídia Henry Jenkins e seu livro “Cultura da Conexão”.
Ibrahim analisa que muitas variáveis fazem com que um conteúdo “viralize”: piadas, humor, animais, coisas assombradas, entre outros. “Mas é sempre muito contextual. Algumas coisas que ‘viralizam’ hoje, amanhã são ignoradas totalmente. Mas é uma combinação de fatores intrínsecos aos próprios vídeos e ao ambiente das redes que os propagarão (a ‘viralização’ no caso)”, esclarece.
Ele destaca que o efeito viral se explica pelo fenômeno denominado “Rich get richer”, ou seja, quem tem grande audiência e se baseia em validação social.
“Somos mais propensos a gostar de algo se alguém que valorizamos em algum nível também gosta daquilo. Aliás, algumas vezes gostamos de algo só para sinalizar a estes que fazemos parte do mesmo grupo. É uma espécie de moeda, capital social que trocamos para fortalecer laços”, finaliza.