A polêmica dos cigarros eletrônicos

Doença misteriosa atrelada ao uso de cigarros eletrônicos ‘acendeu’ o sinal de alerta nos EUA. O que seria uma forma de auxiliar fumantes a pararem com o vício, o dispositivo acabou arrebanhando uma parcela da população à sua adicção, atraída pelo uso de essências que dão ‘sabor’ à inalação.

Em entrevista ao Jornal Cidade, a pneumologista Drª Soraia Cristiane Cassab Acosta esclarece a polêmica envolvendo o cigarro eletrônico, que está proibido no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) há 10 anos.

Jornal Cidade – O que são os cigarros eletrônicos?

O cigarro eletrônico é, basicamente, composto de uma bateria com um cartucho e um vaporizador (atomizador). A bateria é ligada a um sensor que detecta a sucção que ativa o atomizador e acende uma luz de Led na ponta do dispositivo. Inicia-se, então, a vaporização do líquido contido no cartucho (e-líquido ou e-suco). O principal componente do e-líquido é o propilenoglicol, seguido de glicerina, óleo da vitamina E, água e flavorizantes (que dão aroma e sabor). Pode ser utilizado com ou sem nicotina (estimulante e tranquilizante) e, também, conter até 50% de THC (componente da maconha). Produz fumaça, porém não produz monóxido de carbono e não tem alcatrão como o cigarro.

JC – Por que tanta preocupação nos EUA?

Ele não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pois contém substâncias alérgicas, explosivas, teratogênicas (causam problemas ao bebê na gravidez) e cancerígenas. A partir da metade deste ano, surgiram vários casos de pacientes, usuários frequentes do cigarro eletrônico, com quadro grave de insuficiência respiratória. O primeiro estudo realizado e publicado na semana passada, por importante revista científica americana, mostrou que em 805 pacientes com quadro de insuficiência respiratória,17 casos eram graves em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 12 mortes registradas (todos usuários de cigarro eletrônico com até 50% de THC e 30% de nicotina). A biópsia pulmonar destes pacientes mostrou ‘queimadura química’ semelhante à lesão que ocorre em indústrias através de ‘inalação acidental’ de gases tóxicos e semelhante ao dano causado pelo gás mostarda (usado em guerras químicas e banido desde a Segunda Guerra Mundial).

JC – A doença está atrelada ao cigarro eletrônico?

No início, os casos de doença pulmonar foram atribuídos ao uso do óleo da vitamina E, contido no cigarro, que após queima poderia impregnar o tecido pulmonar, mas isso não se mostrou verdadeiro. A causa da ‘estranha’ doença pulmonar continua sem definição, porém já conhecemos o tipo de lesão que ela causa.

Dispositivo foi criado para fumantes deixarem de utilizar o convencional

“Nestes meus 20 anos como pneumologista, tenho acompanhado a tentativa (frustrada ou não) de vários pacientes para a cessação definitiva de seu vício (doença) no tabaco (cigarros, charutos, cigarretes etc.), porém, infelizmente, a indústria do tabaco ainda é a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a bélica (armas)”, destaca a pneumologista.

Drª Soraia reforça que muitos foram os tipos de tratamento lançados para tentar ‘auxiliar’ as pessoas a pararem de fumar e um deles foi o cigarro eletrônico. “Ele funcionaria como uma transição entre o cigarro e a cessação completa do vício, mas os modelos de cigarros, cigarretes e charutos eletrônicos tornaram-se ‘atrativos’ demais e, ao invés de coibir o vício, arrebanharam uma parcela importante da população à sua adicção”, conclui.

Adriel Arvolea: