A importância do brincar e do descanso de telas para crianças

Karem Gonçalves Simões Mayrink e Guilherme Oliveira Mayrink de Sousa são pais de Lorena Simões Mayrink, de nove anos, e de Lavínia Simões Mayrink, de sete. Moradores do bairro Bela Vista, em Rio Claro

Com a crescente presença da tecnologia em todos os âmbitos, brincar de coisas simples parece ter perdido a graça, mas engana-se quem pensa que tais hábitos podem ser facilmente substituídos. No Dia das Crianças, entenda os benefícios das brincadeiras tradicionais e a necessidade da supervisão e do controle de tempo nas telas

O prejuízo causado pelo uso excessivo de telas é grande em qualquer idade, mas entre as crianças os danos são para lá de preocupantes. E, com o passar dos anos, o acesso torna-se cada vez maior.

Segundo dados divulgados pelo Governo Federal, de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que apresenta os principais resultados sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil, 93% da população de 9 a 17 anos é usuária de internet no país, o que representa atualmente cerca de 25 milhões de pessoas.

Aproximadamente 23% dos usuários de internet de 9 a 17 anos reportaram ter acessado a internet pela primeira vez até os 6 anos de idade. A proporção era de 11% em 2015. No Dia das Crianças, a reportagem do JC conversou com uma família e uma profissional sobre a importância do brincar fora das telas e quais os benefícios que podem ser vistos diante dessa retomada do que muitos podem chamar de clássico.

Maristela Ferreira Antônio é psicóloga e explica de forma simples a importância de atividades como pintar, correr, pular. “O brincar é de uma importância muito significativa, pois, quando a criança brinca, ela está analisando a realidade dela, desenvolvendo autoconfiança e curiosidade, e isso faz com que as habilidades cognitivas, socioemocionais e motoras sejam desenvolvidas de maneira mais criativa e edificante. Tudo isso faz com que os pequenos tenham mais autoconhecimento, mais autoconfiança, mais curiosidade perante as questões e, claro, desenvolvimento de linguagem e pensamento”, fala.

A profissional pontua ainda quais são as principais atividades e seus benefícios. “Existem algumas que são muito significativas para o desenvolvimento emocional, principalmente as de faz de conta. As massinhas são muito importantes para o desenvolvimento motor; fantasias, desenhos, pinturas, correr, pular, brincar de esconde-esconde e pega-pega, por exemplo. Criar outros tipos de ferramentas, como caixas de papelão, cartolina e inventar brinquedos, deixando a criatividade fluir, também é para lá de válido. Existem ainda os jogos sensoriais, que desenvolvem o tato, o olfato e os demais sentidos”, explica Maristela.

USO DE TELAS

A psicóloga explica que já há um consenso entre os profissionais de todo o mundo sobre o prejuízo causado aos pequenos – principalmente quando o uso é exagerado.

“Esse excesso prejudica o desenvolvimento neurossensorial das crianças e o convívio social. As relações interpessoais ficam comprometidas e o uso excessivo gera muita ansiedade, podendo causar também depressão, baixa autoestima e até casos de obesidade, pois muitas crianças acabam se alimentando apenas diante de uma tela. Mas a área mais prejudicada, sem dúvida, é o convívio social e também o aumento da ansiedade, que pode comprometer o desenvolvimento neurológico”, aponta a profissional.

O QUE PODE?

Antônio fala ainda que é recomendado que crianças não usem tela nenhuma e não tenham celular até, pelo menos, os oito anos de idade. “Vale ressaltar que a questão de ter um celular é apontada como uma questão de segurança. Já o uso das redes sociais deve acontecer a partir dos 16 anos”, aponta. E segue: “É muito difícil? É! Mas, se os pais conseguirem agir dessa maneira, fica muito mais fácil reverter os danos que podem ser provocados.”

Já em relação à tela da TV, o indicado é que o uso seja de, no máximo, duas horas – mas não seguidas, e sim intercaladas -, e a programação precisa ser bem selecionada, de acordo com a idade, pelos adultos responsáveis por essa ou essas crianças.

APROVEITE O TEMPO

Aproveitar o tempo com os pequenos é fundamental não só para o desenvolvimento deles, mas também da família como um todo. Nem sempre, porém, os pais ou responsáveis conseguem estar presentes.

“Priorizar o tempo de qualidade passa por uma área complicada, pois muitos pais trabalham fora, mas, nesse período em que estão com os filhos, é possível desenvolver um relacionamento de muita qualidade, por exemplo, brincar de pintar, desenhar, montar jogos e peças, usar massinha para modelar e ajudar os pequenos no dever de casa”, sugere a psicóloga.

Maristela dá uma dica importante na hora de colocar os pequenos para dormir: “É muito importante ler para as crianças antes de dormir, inventar histórias e até mesmo cantar. A música é muito importante no desenvolvimento dos pequenos. Tais ações contribuem muito para o desenvolvimento afetivo e interpessoal, principalmente entre os familiares”, finaliza.

BRINCADEIRA EM FAMÍLIA

Karem Gonçalves Simões Mayrink e Guilherme Oliveira Mayrink de Sousa são pais de Lorena Simões Mayrink, de nove anos, e de Lavínia Simões Mayrink, de sete. Moradores do bairro Bela Vista, em Rio Claro, vivem em harmonia com as escolhas feitas em relação às pequenas e contam como prezam pelo brincar, principalmente em família.

“As meninas realizam muitas atividades ao ar livre, gostam de estar em constante movimento, adoram ginástica rítmica, educação física e capoeira. Gostam de brincar de esconde-esconde, no parquinho da escola, e adoram um piquenique no antigo Horto Florestal, agora Feena”, conta Karem, a mãe.

Ela relata ainda que as meninas costumam aproveitar muito bem o tempo dentro e fora de casa. “Aqui em casa elas gostam de pintar Bobbie Goods, brincar entre elas, assistir a séries, mas sempre conosco, prestando atenção e de olho no tempo. Já fora de casa, aproveitam para brincar no parquinho, passear com a cachorrinha, entre outras coisas”, conta.

Sobre as brincadeiras em família, Karem diz que as preferidas são esconde-esconde, jogos de tabuleiro, jogo da memória, quebra-cabeça e mais. Os passeios ao ar livre também servem muito para que todos possam brincar juntos. “Vamos ao Lago Azul, ao cinema, ao antigo Horto Florestal, entre outros lugares em que dá para aproveitar bastante em família.”

Quanto ao uso das telas, Karem e Guilherme entendem a necessidade, mas com moderação. “Vejo que o uso é necessário, pois nós, adultos, atualmente não conseguimos fugir dele; já faz parte totalmente da realidade. Mas é preciso usar com moderação. Aqui em casa as meninas usam a tela, sim, mas não possuem celular, diferentemente da maioria, e na televisão temos senha”, conta.

Ainda sobre supervisão e tempo, Karem comenta que mudanças foram necessárias e a melhoria foi aparente. “Depois que diminuímos o uso das telas, notamos melhora no foco, na concentração, no humor e no comportamento das meninas. As telas em excesso deixam as crianças irritadas e com mau comportamento”, finaliza a mãe, que ama brincar e está sempre ao lado das filhas e do marido nos momentos de diversão.

Laura Tesseti: