75% dos eleitores na cidade de SP são contra volta às aulas, diz Datafolha

EMILIO SANT’ANNA – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Cinco meses após ter Covid-19, Zulmira Rosa de Sousa Silva, 43, ainda sofre as consequências. Engenheira de segurança do trabalho em um hospital privado de São Paulo, ela diz que sente dificuldades para se concentrar e para ler. Seu filho, Jonas, 16, está no primeiro ano do ensino médio da rede estadual e ela já sabe: “Se tiver opção, não vou mandar de volta para a escola. Moramos com meus pais, que são idosos. Eu sei o que é esse vírus, não vou expô-los a isso”, afirma.

Assim como ela, três em cada quatro eleitores da capital paulista (75%) acham que as escolas deveriam permanecer fechadas nos próximos dois meses, de acordo com o Datafolha. Outros 24% afirmam que elas deveriam ser reabertas, e 1% não opinou.

A pesquisa foi realizada nos dias 21 e 22 de setembro. Foram entrevistados 1.092 eleitores com 16 anos ou mais na cidade de São Paulo. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais e para menos.

Há, contudo, diferenças nessa opinião de acordo com a renda familiar mensal.

Entre as que ganham até dois salários mínimos (R$2.090), 77% afirmam que as escolas deveriam permanecer fechadas nos próximos dois meses. Entre os que têm renda mensal de mais de 10 salários mínimos (R$ 10.450) esse índice cai para 56%.

Entre os que têm em casa estudantes matriculados na rede privada e os que têm na rede pública, no entanto, o apoio à manutenção das escolas fechadas é semelhante.

Segundo a pesquisa, 75% dos eleitores na primeira situação apoiam que elas continuem sem aulas nos próximos dois meses. Esse índice é de 79% para os que têm em casa uma criança matriculada em creches da prefeitura, 80% na rede municipal e 77% na estadual.

Enquanto o governador João Doria (PSDB) definiu o cronograma de reabertura a partir de outubro -e já liberou parte das atividades escolares no estado desde 8 de setembro-, o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição, adiou para novembro a decisão, mesmo mês da eleição municipal.

Covas vem sofrendo pressões de grupos opostos sobre a reabertura das escolas na cidade. Enquanto sindicatos de professores querem as aulas presenciais retomadas apenas em 2021. Donos de escolas pedem que a reabertura ocorra ainda neste ano.

O plano de Covas para o retorno das aulas presenciais terá como foco os alunos do 3º ano do ensino médio, atualmente em preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que será aplicado em janeiro de 2021. Para tanto, esses estudantes podem ter aulas presenciais em dezembro e mesmo em janeiro do ano que vem.

Voltar às aulas presenciais com alunos mais velhos, avalia o poder municipal, seria mais seguro, uma vez que eles estariam aptos a seguir de forma mais rigorosa os protocolos de segurança sanitária, como uso de máscara e distanciamento social.

Esse plano é considerado também mais factível para o município de São Paulo, que tem cerca de 1.000 alunos no último ano do ensino médio. Nas escolas estaduais, por sua vez, são mais de 108 mil estudantes no terceiro ano.

A pandemia do novo coronavírus já causou mais de 140 mil mortes no país e contaminou quase 4,7 milhões de pessoas, de acordo como o consórcio de imprensa formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1. As informações são coletadas diretamente com as secretarias de Saúde estaduais.

Neste mês, a cidade de São Paulo entrou pela primeira vez, desde o início da pandemia no país, em março, no estágio desacelerado de casos do novo coronavírus, segundo o monitor da Folha de aceleração da Covid-19.

De acordo com o Datafolha, as mulheres apoiam mais do que os homens a manutenção das escolas fechadas nos próximos dois meses, 88% ante 62%. “Não faz sentido voltar no último bimestre. Não vejo como as escolas vão se preparar para receber os alunos”, diz Zulmira.

Além de não querer aumentar as chances de exposição do filho ao vírus, a engenheira tenta evitar que seus pais também tenham essa chance de contaminação aumentada. “Esse tempo todo o meu filho só saiu de casa uma vez, para cortar o cabelo e ainda tomei todas as precauções”, afirma.

Zulmira não sabe se mudaria de opinião caso seu filho fosse pequeno e não tivesse com quem deixá-lo quando sai para trabalhar, mas, em sua situação, ela não vê forma segura de Jonas retornar às aulas presenciais. “Meu problema é ter que deixar meu filho com quem estou preocupada [com a saúde]”, diz.

O medo dessa mãe é refletido em uma das respostas à pesquisa Datafolha. Quando indagada sobre se a volta às aulas presenciais agravaria a pandemia, a maior parte dos eleitores ouvidos (55%) diz que sim. Para 19% deles, a reabertura das escolas agravaria pouco a pandemia, 24% dizem que a situação não pioraria e 2% não opinaram.

Mais uma vez, as mulheres superam os homens entre os que acham que a volta às aulas presenciais agravaria a pandemia, 60% ante 48%, e entre os que são contra a reabertura das escolas (71%).

O trabalho da Prefeitura de São Paulo com os alunos da rede municipal é avaliado mais positivamente do que negativamente pelos eleitores ouvidos pelo Datafolha. Entre os que têm em casa estudantes matriculados na rede municipal, 30% dizem que esse trabalho é bom ou ótimo, 44% avaliam como regular, 22% como ruim ou péssimo e 4% não opinaram.

Entre os eleitores que declaram voto em Celso Russomanno (Republicanos), 73% dizem as escolas devem ficar fechadas nos próximos dois anos. Entre os que pretendem votar em Bruno Covas (PSDB), 79% afirmam o mesmo.

Esse índice chega a 89% entre os eleitores de Guilherme Boulos (PSOL) e cai para 69% entre os que pretendem votar em Márcio França (PSB).

Assim como na capital paulista, prefeitos de outras cidades do estado de São Paulo têm recorrido a pesquisas de opinião pública para fazer os cálculos políticos e decidir quando devem reabrir as escolas. O resultado é que muitos deles postergaram a decisão.

Para Zulmira, a discussão sobre a volta às aulas presenciais agora ou no ano que vem é prematura e seguro mesmo, diz ela, seria a retomada apenas depois da chegada da vacina contra o novo coronavírus, mesmo que isso signifique a perda de um ano para seu filho e outros alunos.

“A Covid-19 veio para forçar a gente a usar a tecnologia que já estava disponível. Passou da hora de discutir esse sistema de educação, com um professor, uma lousa e os alunos sentados em uma sala de aula”, afirma.

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