Em pé: Jacenir, Pedro Paulo, Djalma, Silvio Roberto Marola, Beto e Paulo Agachados: Os gêmeos Kel, Zó, Giba, Zimermman e Glauco

Ramon Rossi

Nesta terça-feira (14), o verdão de Araras, o saudoso União São João, completa 39 anos de fundação. Mas, como nos últimos anos, a entidade ararense não tem muito o que comemorar, afinal, desde a derrota em casa por 3 a 2 para o Pirassununguense, em setembro de 2014, o time não entra mais em campo para jogos oficiais. Para ex-funcionários e torcedores ouvidos pelo Jornal Cidade, só resta saudade.

Assim como Araras é uma das cidades pioneiras em abolir a escravidão, rompendo os grilhões do último escravo em 8 de abril de 1888, antes da Lei Áurea, e ser a primeira cidade do Brasil a realizar a Festa da Árvore no dia 7 de junho de 1902, o União também manteve a tradição do pioneirismo local: foi o primeiro time brasileiro a se tornar clube-empresa, em 1994.

Foi também dos primeiros do interior de São Paulo a contratar jogadores de grandes clubes, com passagem até pela Seleção Brasileira, casos dos goleiros Gilmar e Velloso, o lateral China, os meias João Santos, Aílton e Aílton Lira, e os atacantes Washington, Éder Aleixo e João Paulo, entre outros. O União São João é o time que revelou o melhor lateral esquerdo do Brasil de todos os tempos: o craque Roberto Carlos.

Em setembro passado, a reportagem do JC visitou as instalações do estádio Dr. Hermínio Ometto, pintado nas cores verde e branco, dos donos da casa. O gramado parecia estar em boas condições, assim como as arquibancadas e os vestiários. É uma visão impressionante, pela estrutura sempre elogiada do “Herminião”.

Para Nilsinho Zanchetta, jornalista esportivo de Araras, escritor de livros sobre a história do futebol local e regional e que acompanhou décadas da história do clube, 14 de janeiro é um dia inesquecível.

“Foi pelo União São João, tão glorioso, que me apaixonei pelo rádio, pela TV e por futebol, nesta mesma ordem. Ter me formado jornalista me proporcionou trocar a arquibancada pelo gramado, afinal, o que eu queria mesmo era estar cada vez mais perto do time, sentir a emoção, transmitir emoção. Esse sonho eu realizei. Me emocionei com as vitórias e chorei com as derrotas. Sabe o sentimento de amor que temos pela nossa mãe, pela nossa filha, pela nossa família? Pois bem, é o mesmo que sinto pelo União São João, um amor incondicional, um amor de verdade. Parabéns União São João pelos 39 anos de história”, comentou ele.

Silvio Garlizoni, ex-atleta e ex-treinador do União, que estava na equipe que em 1987 conquistou o primeiro título do Clube Campeão Paulista da Segunda Divisão, disse que o tratamento por lá não era apenas profissional não. Era muito familiar.

“Cheguei na Usina São João em março de 1982, na época era São João. Fiquei como jogador até 1988. Como treinador, trabalhei 1996 e 1997 sendo Campeão Paulista de Junior. Em 2002 voltei na base como treinador da categoria Sub-15, 17, 20, auxiliar do Profissional e vários jogos e, então, fiquei até 2013. Tenho muita saudade dos treinos. Jogávamos nos domingos à tarde na Usina e levávamos toda a família no fim do jogo no clube social. Fazíamos tudo com amor porque tínhamos tratamento de família e de muitos amigos”, relembrou.

O União São João também ostenta os títulos de Campeão Brasileiro da série C (1988) e da série B (1996), e Bicampeão Paulista Sub-20 (1996 e 2001).

O torcedor Marcelo Valem disse à nossa reportagem que começou a acompanhar o União em 1987, quando tinha 12 anos. Ele acompanhava seu pai nos jogos, que ainda eram no Estádio Engenho Grande da Usina.

“Naquele ano o time conquistou o acesso à primeira divisão de São Paulo e o título da Divisão Especial. Para mim este é o momento mais marcante, pois foi meu primeiro título como torcedor e acredito que para a cidade também, pois houve uma festa muito grande naquele ano. A partir daí  acompanhei o União quase que em todos os jogos. Vi grandes jogadores, grandes jogos; vi Roberto Carlos aparecer para o futebol; vi os acessos nos campeonatos brasileiros e o melhor momento do clube (os anos 90). E vi toda a decadência que passou o União a partir de 2003. Infelizmente, o time está nesta situação e a cada ano que se inicia eu tenho menos esperança que um dia ele volte. Sinto saudades, sim, pois passei grande parte da minha vida no estádio e de repente isso não existe mais”, contou, emocionado.

Já para o vice-presidente do União, Antônio Carlos Beloto, são 39 anos de existência com muita honra. “Apesar de inativo, mantemos as filiações em dia e a esperança de voltarmos. Em 2020 vamos disputar o Sub-11 e 13 numa parceria com a Bata Sports. Esperança, sempre. Vida que segue”, disse.

Recapitulando

Em entrevista publicada no dia 21 de setembro passado no Caderno Regional, que é veiculado aos sábados no Jornal Cidade, José Mário Pavan, presidente do clube, fez sua descrição da situação e sobre como o time chegou ao momento atual.

O União, após o decesso da primeira divisão em 2005, lutou por cinco anos consecutivos, gastou até o que não tinha, bateu na trave para voltar à primeira divisão. Se endividou e não conseguiu. Daí para a frente foi decesso para a série A3 e para a B. Clubes grandes de São Paulo tentaram ajudar o time. Aí, a coisa piorou. Não se tinha domínio dos jogadores. Pedimos licença para formar um forte Sub-20 para no próximo ano jogar o campeonato e, em seguida, voltar para a segunda divisão do paulista. Mas uma circular da CBF proibiu todos os times que não disputam profissional a ir para a base. Foi o nosso fim”, afirmou ele.

Questionado sobre o futuro do União, Pavan falou, à época, que a diretoria diariamente recebe propostas de investidores, mas que “ainda não encontrou o parceiro certo”. “Sempre estivemos abertos a negócios. Mas não a aventureiros. Espero que com as leis que estão para serem aprovadas, para se captar o investimento estrangeiro para aplicar no futebol e também o dinheiro dos cassinos, que podem ser permitidos, o esporte seja valorizado novamente”, disse.

Ainda na entrevista, o presidente falou, emocionado, que a vida fora das quatro linhas é “muito triste”. “Tenho muita saudade do tempo dos jogos. O cheiro do vestiário, a adrenalina do tempo, isso me faz muita falta. Meu domingo é triste. Só quem fez bastidores sabe. É a mesma coisa de se perder um braço. Estou aleijado. Vontade de voltar, não falta”, finalizou.

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